👁️ EDIÇÃO 5 - Julho 2025

🌌 RayOne Galaxy: A Nova Geração das Lentes Premium Chega ao Brasil

A oftalmologia está sempre em movimento, e a busca por lentes intraoculares (LIOs) que ofereçam independência dos óculos com qualidade visual consistente é uma demanda constante. As LIOs multifocais vêm sendo o padrão-ouro para pacientes que desejam enxergar bem de longe, intermediário e perto. No entanto, distúrbios visuais como halos, glare e disfotopsias ainda são queixas frequentes, principalmente à noite ou em ambientes com pouca luz, bem como a restrição de uso nos pacientes com comorbidades que possam ocasionar perda de contraste.

Foi pensando nesse desafio que surgiu a RayOne Galaxy, a primeira lente intraocular com design espiral do mundo. Desenvolvida pela Rayner, no Reino Unido, com o auxílio de inteligência artificial, a Galaxy propõe uma solução inovadora: fornecer uma visão contínua em todas as distâncias, com menor incidência de disfotopsias e transmissão total da luz (0% de perda), algo inédito entre as opções atuais.

Diferente das LIOs trifocais tradicionais, que utilizam zonas difrativas para dividir a luz em múltiplos focos, a RayOne Galaxy conta com uma ótica espiral não-difrativa. Esse design permite uma transição suave e progressiva entre os diferentes pontos focais, imitando de forma mais natural a acomodação do olho humano. O resultado é uma experiência visual mais fluida, sem os “degraus” ópticos típicos das multifocais convencionais, e com menos halos e brilho, especialmente em situações de baixa iluminação.

Estudos clínicos internacionais realizados antes do lançamento envolveram mais de 180 olhos em dez países. Os resultados, avaliados em 1 e 3 meses de pós-operatório, mostraram acuidade visual excelente (até 0.1 logMAR) em todas as distâncias, uma curva de defocus contínua com acuidade de até 0.2 logMAR em um range de cerca de 4 dioptrias, e uma taxa de disfotopsia significativamente menor que as LIOs trifocais convencionais. Em um estudo pré-clínico com 30 voluntários, a Galaxy apresentou um perfil de halo mais próximo ao de uma lente monofocal aprimorada do que ao de uma trifocal difrativa.

Além disso, o tempo de adaptação relatado pelos pacientes tem sido mais curto, o que pode representar uma grande vantagem em relação às lentes multifocais tradicionais, onde a neuroadaptação pode levar semanas ou até meses.

No Brasil, a novidade já chegou. A primeira cirurgia com a RayOne Galaxy no país foi realizada recentemente pelo Dr. Gustavo Hüning durante o evento Phaco Brazil 2025, marcando a estreia nacional da lente e despertando grande interesse entre os especialistas em cirurgia de catarata.

A RayOne Galaxy surge como uma alternativa para pacientes que buscam visão de alta performance em todas as distâncias, mas que têm receio dos efeitos colaterais ópticos comuns nas multifocais tradicionais. A promessa é clara: mais independência dos óculos, com mais conforto e menos efeitos adversos.

Apesar de mais dados a longo prazo ainda serem necessários, os resultados preliminares colocam a RayOne Galaxy como uma forte candidata a ocupar um lugar de destaque entre as LIOs premium do mercado. É possível que estejamos presenciando o início de uma nova geração de lentes, onde clareza, conforto e inovação caminham juntos.

MIGS: vieram para ficar?

A Cirurgia Minimamente Invasiva para Glaucoma (MIGS) representa um avanço significativo nas opções de tratamento disponíveis para o glaucoma, a principal causa de cegueira irreversível em todo o mundo. A MIGS oferece uma alternativa para pacientes com doença leve a moderada que não alcançaram o controle ideal da pressão intraocular (PIO) com medicamentos ou laser.

O Que é MIGS e Seus Propósitos:

MIGS é um grupo diversificado de técnicas cirúrgicas que visam reduzir a PIO minimizando o trauma da conjuntiva e da esclera. O principal objetivo é melhorar o escoamento do humor aquoso sem os riscos de complicações graves associadas à cirurgia incisional convencional, como trabeculectomias e dispositivos de drenagem para glaucoma.

A PIO é determinada pelo equilíbrio entre a produção de humor aquoso pelo corpo ciliar e sua drenagem através de duas vias principais: a via trabecular e a via uveo-escleral. Os dispositivos MIGS atuam de três maneiras principais:
  • Melhorando as vias de drenagem existentes: da via trabecular (através da malha trabecular e do canal de Schlemm) ou da via uveo-escleral (drenando para o espaço supracoroidal).
  • Criando uma via alternativa de escoamento: do humor aquoso da câmara anterior para um espaço subconjuntival, formando uma "bolha" (bleb).

Vantagens da MIGS

As MIGS oferecem diversas vantagens que impulsionaram sua ampla adoção no tratamento do glaucoma:
  • Menor Morbidade Cirúrgica e Perfil de Segurança Aprimorado: comparadas às cirurgias incisionais, as MIGS geralmente apresentam um risco reduzido de complicações graves, como blebite, endoftalmite, hipotonia e efusões coroidais.
  • Menos Visitas Pós-Operatórias e Reabilitação Visual Mais Rápida: o menor trauma tecidual resulta em um período de recuperação mais rápido.
  • Preservação da Conjuntiva: muitas MIGS, especialmente as baseadas no canal de Schlemm e supracoroidais, preservam a conjuntiva, o que é crucial caso futuras cirurgias sejam necessárias.
  • Redução da Dependência de Medicamentos: as MIGS podem reduzir significativamente a necessidade de colírios, aliviando os efeitos colaterais locais e sistêmicos, os desafios de adesão do paciente e as flutuações de pressão associadas à terapia medicamentosa. Estudos mostraram que pacientes que receberam iStents relataram melhores resultados na qualidade de vida, provavelmente devido à redução da necessidade do uso de colírios.
  • Conveniência: a maioria dos dispositivos MIGS pode ser implantada no momento da cirurgia de catarata, reduzindo o número de procedimentos cirúrgicos que um paciente precisa enfrentar.
  • Técnica Simplificada: as técnicas cirúrgicas da MIGS são geralmente consideradas mais fáceis e rápidas de realizar do que as cirurgias incisionais.

Categorias e Exemplos de Dispositivos MIGS

Os dispositivos MIGS são categorizados pelo seu local de ação no olho:

Dispositivos do Canal de Schlemm:
  • Mecanismo: aprimoram o escoamento do humor aquoso através do canal de Schlemm, uma via de drenagem já existente. A malha trabecular justa-canalicular é a principal fonte de resistência ao escoamento nesta via. São inseridos por uma incisão corneana clara (abordagem 'ab interno') e geralmente visam a parte nasal da malha trabecular.
  • Exemplos:
    • iStent: o primeiro dispositivo de bypass trabecular aprovado pela FDA em 2012. Existem várias gerações, como o iStent Inject (menor, com quatro orifícios laterais para fluxo aquoso) e o iStent Infinite (com três stents pré-carregados).
    • Hydrus: uma endoprótese em forma de crescente que dilata e estrutura o canal de Schlemm ao longo de três horas de relógio.
    • Goniotomia: técnicas como GATT, Kahook Dual Blade (KDB), Trabectome, OMNI Surgical System, Streamline.
    • Visco-Dilatação do Canal de Schlemm: ABiC, TRAB360, OMNI Surgical System.

Dispositivos Baseados no Espaço Supracoroidal:
  • Mecanismo: aprimoram a via uveo-escleral existente, que drena o humor aquoso para o espaço supracoroidal.
  • Exemplos:
    • CyPass Micro-Stent: foi retirado do mercado em 2018 devido a perda de células endoteliais.
    • iStent SUPRA: feito de polieterosulfona e titânio. Não comercializado.
    • Miniject: disponível na Europa e Austrália, avaliado pela FDA.

Dispositivos MIGS Subconjuntivais (MIBS):
  • Mecanismo: criam uma via artificial para drenagem subconjuntival, geralmente requerendo antimetabólitos.
  • Exemplos:
    • XEN Gel Stent: tubo de 6 mm inserido ‘ab interno’.
    • Preserflo MicroShunt: tubo flexível de SIBS, inserido ‘ab externo’.
    • EX-PRESS: dispositivo metálico sob retalho escleral.

Outras Técnicas MIGS:
  • Ablação a Laser (ECP): destrói processos ciliares para reduzir produção de humor aquoso.
  • Dispositivos Intracamerulares de Liberação de Medicamentos: como iDose TR e Durysta.

Resultados Clínicos e Eficácia

A eficácia dos dispositivos MIGS é avaliada em ensaios, geralmente combinados com cirurgia de catarata:
  • iStent: redução de PIO e medicamentos.
  • Hydrus: maior redução de PIO e menor progressão do campo visual.
  • Goniotomia: redução significativa de PIO em pacientes com pressões basais altas.
  • XEN Gel Stent: eficácia comparável à trabeculectomia, porém maior taxa de needling.
  • Preserflo: ligeiramente menos eficaz em PIO, mas com menos complicações e menor tempo cirúrgico.

Em geral, a combinação de MIGS com cirurgia de catarata oferece benefício adicional em relação à cirurgia isolada.

Segurança e Eventos Adversos

A segurança da MIGS é considerada superior à cirurgia incisional:
  • Menos Eventos Que Ameaçam a Visão: frequência igual ou menor que grupos controle.
  • Complicações Comuns: incluem obstrução do stent, inflamação, hifema e encapsulamento do bleb.
  • Dispositivos Subconjuntivais: suscetíveis a complicações de bleb como fibrose e endoftalmite.

Fatores na Seleção do Dispositivo

A escolha do dispositivo depende de:
  • Fatores do Cirurgião: experiência e acesso ao dispositivo.
  • Fatores do Paciente: tipo de glaucoma, comorbidades, anormalidades de ângulo, acessibilidade e risco de sangramento.

Limitações e Desafios Futuros da MIGS
  • Redução Modesta da PIO: menos eficaz para pressões-alvo muito baixas.
  • Lumens Pequenos: suscetíveis a obstruções.
  • Dados Limitados a Longo Prazo: vigilância contínua é essencial.
  • Dificuldade em Isolar o Efeito da MIGS: maioria dos estudos é combinada com catarata.
  • Viés de Patrocínio: muitos estudos são financiados pela indústria.
  • Custo Elevado: limita a adoção em países de baixa renda.
  • Heterogeneidade de Dados: falta padronização nos estudos e desfechos.

Conclusão

A MIGS representa uma revolução na cirurgia para glaucoma, oferecendo segurança, recuperação rápida e conservação da conjuntiva. É especialmente útil para pacientes que não requerem pressões extremamente baixas, mas desejam reduzir medicamentos com menor risco cirúrgico.

Referência Bibliográfica:

Jain, N., & Fan Gaskin, J. C. (2025). Minimally Invasive Glaucoma Surgery: Is It Here to Stay?. Clinical & experimental ophthalmology, 10.1111/ceo.14571. Advance online publication. https://doi.org/10.1111/ceo.14571

📈🚀Highlights World Glaucoma Congress 2025

O Congresso Mundial de Glaucoma de 2025 reuniu especialistas de todo o mundo para discutir avanços cirúrgicos, inovações tecnológicas e abordagens diagnósticas desafiadoras, com destaque para os casos complexos.

Alta Miopia e Glaucoma: diagnóstico e abordagem em debate

O manejo do glaucoma em pacientes com alta miopia foi um dos temas de destaque. Não houve consenso sobre a melhor abordagem cirúrgica – com defesas bem fundamentadas para o uso de iStent, Hydrus, Preserflo e trabeculectomia. A escolha deve considerar cuidadosamente o contexto clínico e os riscos anatômicos associados à alta miopia.

Do ponto de vista diagnóstico, as distorções estruturais em olhos míopes desafiam a acurácia do OCT e do campo visual. A tecnologia ROTA (RNFL Optical Texture Analysis) foi apresentada como uma ferramenta promissora para diferenciar danos glaucomatosos reais de artefatos. Também se discutiu a necessidade de bancos de dados normativos específicos para esse perfil de pacientes.

Tecnologias que ainda não chegaram ao Brasil

O congresso apresentou uma série de dispositivos e técnicas inovadoras ainda indisponíveis no mercado brasileiro. Entre elas:

  • Aqualumen: alternativa menos invasiva à trabeculectomia tradicional
  • DSLT (Direct Selective Laser Trabeculoplasty): trabeculoplastia seletiva a laser com aplicação automatizada
  • Mininject, OMNI, SION, iTrack: novas opções dentro do arsenal MIGS
  • GONIO ready CL: lente de gonioscopia cirúrgica adesiva

Catarata e Glaucoma: o valor da individualização

A estabilidade refracional proporcionada pelos MIGS foi defendida como superior à das cirurgias filtrantes, especialmente em pacientes que exigem previsibilidade visual. Também foram discutidas contraindicações para o uso de lentes multifocais em glaucomatosos – com evidências de perda de até 2 dB de sensibilidade visual. Outros temas abordados:

  • Zonulopatia: sinais clínicos como facodonese e assimetria da câmara anterior devem ser valorizados
  • Catarata em olhos hipotônicos: uso de sutura compressiva como estratégia
  • Nanoftalmo: indicação de esclerotomia profilática quando AL < 18 mm

Goniotomia segmentar ganha força

A comparação entre goniotomia 360° e segmentar apontou vantagem para a segunda, com eficácia semelhante, menor risco de hifema e pico hipertensivo, além da preservação da malha trabecular para futuras intervenções. Destaque para a afirmação de que 120° de goniotomia são geralmente suficientes.

Glaucoma de ângulo fechado: menos pode ser mais

Dentre as estratégias cirúrgicas, destacaram-se:

  • FACO + goniossinequiálise para casos iniciais
  • FACO + goniotomia + goniossinequiálise para casos avançados
  • Iridotomia cirúrgica + goniotomia para pacientes sem catarata
  • FACO + goniotomia não inferior à FACO + TREC em GPAF avançado
  • AS-OCT como ferramenta complementar à gonioscopia

Tanito: reutilizável, segmentar e eficiente

O Dr. Masaki Tanito apresentou as três versões do microhook (Original, Shoji e T-hook). Sendo defendido como eficaz, custo-benefício, além de reutilizável. Em estudos comparativos associados com faco, mostrou redução pressórica superior ao iStent W e com menor custo por mmHg reduzido.

Tubos: realidade crescente fora do Brasil

Houve ampla discussão sobre o uso de tubos no exterior, com destaque para o tubo Paul, de menor calibre. Foram discutidas estratégias de implante em câmara anterior, sulco e pars plana, além de técnicas de recobrimento (inclusive com cápsula própria). Complicações como erosão e uso de mitomicina também foram abordadas.

TREC continua relevante: atualizações e manejo de complicações

A trabeculectomia foi bastante debatida, especialmente em casos avançados. As complicações mais frequentes e estratégias de reabordagem foram tema de sessões específicas, com destaque para o uso de sutura transconjuntival e o manejo de quadros de hipotonia precoce e superfiltração.

Glaucoma neovascular: abordagem escalonada

O glaucoma neovascular (GNV) foi tema de discussão, especialmente no contexto de casos refratários. Uma das estratégias abordadas incluiu:

  • Ciclofotocoagulação parcial como etapa inicial, com o objetivo de reduzir a inflamação e facilitar intervenções subsequentes
  • Posteriormente, indicação de implante de tubo como abordagem complementar
  • Discussão sobre o uso combinado de anti-VEGF e panfotocoagulação, com resultados superiores à panfotocoagulação isolada

Outros destaques

  • DMEK resultou em menor pressão intraocular em comparação com DSAEK em pacientes com glaucoma
  • SLT em dose anual reduzida apresentado como tendência

Conclusão

O congresso reforçou que, diante da multiplicidade de apresentações clínicas, o tratamento do glaucoma precisa ser cada vez mais personalizado. A tendência global é de combinar segurança, estabilidade visual e preservação anatômica, com um olhar cuidadoso para novas tecnologias – desde que bem indicadas.

Dr. Gustavo Carvalho Pavão
● Fellow do segundo ano de catarata e glaucoma – BOS

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