Autor: leosilvanobrega@gmail.com

  • Edicao9

    👁️ EDIÇÃO 9 – Agosto 2025

    Além das Fronteiras: o que aprendemos em Montreal e Harvard

    Observership – Universidade de Montreal
    Por: Bruno Santana

    Ao final do segundo ano da residência médica, busquei ampliar minha formação por meio de uma experiência internacional. Passei 15 dias em Montreal, acompanhando o serviço de retina da Universidade de Montreal sob a supervisão do Dr. Flavio Rezende, referência mundial na área.

    Estar próximo ao Dr. Flavio foi decisivo, tanto pela relevância de sua contribuição científica quanto pela oportunidade de observar sua rotina de trabalho em um centro de referência.

    Ao longo do observership, vivenciei intensamente o dia a dia da retina cirúrgica, acompanhando procedimentos complexos e desafiadores que ampliaram meu raciocínio clínico e minha visão sobre tecnologia aplicada ao cuidado ocular. Também pude observar a relação médico-paciente conduzida de forma humana e empática, mesmo em cenários de alta complexidade.

    Mais do que aprendizado técnico, a experiência me trouxe uma perspectiva global: o contato com colegas de diferentes países, cada um com sua realidade e forma de atuar, ampliou meu entendimento sobre a oftalmologia e enriqueceu minha formação. Foi um período que expandiu horizontes e mostrou o valor de buscar vivências fora do nosso ambiente habitual, algo que pode transformar a trajetória de qualquer residente.

    Observership – Mass Eye and Ear / Harvard Medical School
    Por: Matheus Pacheco

    A experiência no Mass Eye and Ear foi de grande valor na minha trajetória. O desejo de ter uma experiência internacional sempre esteve presente em mim, porém não foi possível realizar durante a faculdade de medicina.

    Durante a residência, no entanto, não deixaria essa oportunidade passar. No início do R2, conversei com minha chefe de residência sobre possíveis lugares e escolhemos Harvard para tentar o estágio.

    Ela tinha o contato de um dos chefes do setor de Córnea de Harvard (uma das minhas principais áreas de interesse), enviou uma mensagem e ele prontamente respondeu com algumas orientações sobre o processo necessário para obter o estágio.

    Após alguns envios de documentos e trocas de e-mails, ficou firmado: iria realizar meu sonho antigo de conhecer o serviço de oftalmologia de Harvard por dentro.

    A experiência foi enriquecedora do começo ao fim. Ainda que a oftalmologia praticada nos EUA atualmente seja bastante similar à do Brasil, o simples fato de estar em Harvard, com toda sua grandiosidade e tradição, impressiona. Foram dias de imersão, onde chegava às 6h30 e muitas vezes saía às 20h30. Um grande volume de cirurgias e atendimentos, com pacientes referenciados de diversos estados dos Estados Unidos para avaliação.

    Vivenciei principalmente cirurgias de alta complexidade do segmento anterior, transplantes, reposicionamentos de LIOs, fixações secundárias, pupiloplastias — tudo no mais alto nível.

    A troca com fellows e residentes de lá também foi muito enriquecedora, proporcionando uma troca cultural e de experiências valiosa.

    O fato de estar lá por um período curto, cerca de 10 dias, despertou ainda mais meu entusiasmo para aproveitar meu tempo ao máximo. Fiquei sempre disponível, muitas vezes ficava até mais tarde, solicitei participar de outras atividades, e todos foram muito receptivos, incentivando essa postura. Tive a oportunidade de participar de reuniões restritas com chefes, fellows e residentes de Harvard, vendo de perto o nível de discussão por lá. Também pude participar de um jantar com apresentações sobre inovações e o futuro do tratamento de ceratocone — coisas impensáveis se tivesse seguido apenas a escala tradicional que me foi passada.

    Acredito que essa experiência não apenas realizou um sonho antigo, mas também criou novas metas e expectativas. O caminho na oftalmologia pode ser construído de várias formas, e essas pequenas experiências estimulam e renovam as energias. Encorajo todos os residentes com quem converso a buscarem uma experiência como essa.

    Fazendo uma autoanálise, considero o R2 um momento ideal para buscar esse estágio: é um período em que o residente já possui uma boa bagagem em oftalmologia e ainda não enfrenta as preocupações do R3, relacionadas à prova de título ou ao processo de fellowship, podendo vivenciar essa experiência de forma plena e sem grandes preocupações.

    Como dicas finais:
    • Procure um mentor que possa ajudá-lo a conquistar o estágio;
    • Se não tiver, visite os sites das instituições e tente contato direto com os e-mails dos chefes ou responsáveis. É um caminho um pouco mais difícil, mas totalmente viável;
    • Aproveite ao máximo sua estadia lá. Fique mais tempo, seja curioso, pergunte, e as oportunidades surgirão;
    • Mantenha os contatos criados e construa seu networking.

    Autores:

    • Matheus Pacheco – R3 Oftalmologia – BOS
    • Bruno Santana – R3 Oftalmologia – IAMSPE

    Contato
    Políticas

    Oftalmo News • 2025 • Todos os direitos reservados.

  • Edicao8

    👁️ EDIÇÃO 8 – Agosto 2025

    Marco na Oftalmologia: ENCELTO, o Primeiro Implante Ocular Aprovado para MacTel Tipo 2

    A aprovação do ENCELTO pela FDA em 6 de março de 2025 representa um avanço significativo no tratamento da MacTel Tipo 2. Até então, não existiam tratamentos aprovados para retardar ou interromper a perda de visão associada à essa doença.

    Informações relevantes sobre o ENCELTO e a MacTel:

    Os pacientes, normalmente, têm dificuldades para ler, reconhecer rostos ou perceber detalhes finos, com sintomas que se agravam gradualmente ao longo do tempo. Inicialmente, a MacTel foi classificada como um distúrbio dos vasos sanguíneos devido à presença de capilares anormais e com vazamento; entretanto, a pesquisa do Dr. Martin Friedlander e sua equipe revelou que a verdadeira questão subjacente é a neurodegeneração, ou seja, a morte gradual de fotorreceptores e células gliais de suporte.

    • O ENCELTO como Tratamento:
      • É um dispositivo cirurgicamente implantado.
      • Constitui a primeira terapia que entrega um neuroprotetor aprovado para uma doença neurodegenerativa.
      • O dispositivo funciona liberando uma dose constante de fator neurotrófico ciliar (CNTF), uma proteína que ajuda a preservar a sobrevivência e a saúde das células nervosas, incluindo os fotorreceptores da retina. O CNTF atua como um neuroprotetor, ajudando a proteger essas células de danos e atrasa o processo degenerativo.
      • É uma minúscula cápsula à base de colágeno contendo células epiteliais do pigmento retiniano (RPE) geneticamente modificadas, que são responsáveis pela liberação controlada e de longo prazo do CNTF, enquanto as protege do sistema imunológico do corpo.
    • Evidência de Eficácia:
      • A aprovação da FDA foi embasada em dois estudos clínicos de fase 3 que demonstraram a capacidade do implante ENCELTO de retardar a perda dos fotorreceptores em pessoas com MacTel durante um período de 24 meses.
      • Alguns dispositivos removidos de olhos de pacientes após 14,5 anos ainda produziam níveis de CNTF comparáveis aos produzidos no momento da implantação, sugerindo que o dispositivo pode permanecer eficaz muito além dos dois anos observados nos ensaios. Esta longevidade promissora está sendo investigada em estudos de fase 4 estendidos.
    • Implicações Futuras:
      • O ENCELTO também está sendo avaliado para condições neurovasculares degenerativas além da MacTel.
      • O laboratório do Dr. Friedlander explora seu potencial para entregar outras moléculas terapêuticas para doenças como glaucoma e degeneração macular relacionada à idade (DMRI).
      • Essa abordagem neuroprotetora pode ter implicações mais amplas para a prevenção da neurodegeneração em outras doenças.

    Referência Bibliográfica:

    SCRIPPS RESEARCH. FDA approves ENCELTO, a first-of-its-kind eye implant that slows vision loss in rare eye disease. La Jolla, CA, 4 jun. 2025. Disponível em: https://www.scripps.edu/news-and-events/press-room/2025/20250604-encelto-fda-approval-mactel.html.

    Manejo da Hipertensão Ocular: Perspectivas do Paciente e Eficiência Custo-Benefício

    A monitorização da hipertensão ocular (HO) representa um desafio contínuo na prática oftalmológica, exigindo um equilíbrio entre a qualidade do cuidado e a sua viabilidade econômica. Estudos recentes oferecem insights valiosos sobre como otimizar essa gestão, incorporando tanto as preferências dos pacientes quanto a custo-efetividade de abordagens baseadas em ferramentas de predição de risco.

    Um estudo multicêntrico conduzido no Reino Unido, com a participação de 357 pacientes com HO e uma idade média de 69 anos, ressaltou a importância de integrar as preferências dos pacientes nas estratégias de monitoramento. Essa abordagem não só apoia o cuidado, mas também melhora o engajamento do paciente e otimiza os resultados de saúde. Os fatores que mais influenciaram as preferências dos participantes incluíram a frequência das avaliações, o tempo de deslocamento, o profissional de saúde e o custo do serviço.

    A prioridade máxima para os pacientes com hipertensão ocular foi a redução do risco de conversão para glaucoma. A disposição a pagar (WTP – willingness-to-pay) dos pacientes variou significativamente com base nos atributos do serviço. Notavelmente, os pacientes estavam dispostos a pagar um alto valor para reduzir o risco de desenvolver glaucoma, com uma WTP de £628 ao longo de 2 anos para uma redução de 10% no risco.

    Quanto à frequência de acompanhamento, os participantes preferiam um intervalo de 12 meses em relação às opções de 6, 18 e 24 meses, e consistentemente escolhiam tempos de viagem mais curtos. Alinhar as preferências dos pacientes com modelos de cuidado eficientes pode, portanto, melhorar a adesão às consultas e ao cuidado prescrito, ao mesmo tempo em que mantém a custo-efetividade.

    A gestão da HO pode ser significativamente otimizada através do uso de ferramentas de predição de risco multifatoriais. Um modelo de simulação de eventos discretos, que comparou uma estratégia de predição de risco (PR) para monitoramento de HO versus o cuidado padrão no Reino Unido, demonstrou que a abordagem de PR foi mais custo-efetiva. Enquanto o cuidado padrão baseava as decisões de tratamento apenas na pressão intraocular (PIO), idade e espessura central da córnea (CCT), a abordagem de PR incorporou múltiplos fatores clínicos, incluindo PIO, idade, CCT, relação escavação/disco, histórico familiar e outras variáveis relevantes para estimar o risco de conversão de HO para glaucoma de ângulo aberto.

    Embora a estratégia de PR tenha incorrido em custos mais elevados, ela gerou mais anos de vida ajustados pela qualidade (QALYs), com uma razão de custo-efetividade incremental de £11.522 por QALY, o que está bem abaixo do limiar do Reino Unido de £20.000, tornando a abordagem altamente custo-efetiva. Essa ferramenta preveniu eficazmente a cegueira em pacientes de alto risco com HO, ao priorizar o tratamento precoce. Contudo, a aplicabilidade da estratégia depende de limiares de risco e validação em populações mais amplas. O aumento do limiar de risco para iniciar o tratamento (por exemplo, para ≥ 12% em 5 anos) teve um impacto significativo na custo-efetividade, tornando a estratégia de PR não mais custo-efetiva sob o mesmo limiar.

    Os resultados desse estudo estão alinhados com as descobertas do Ocular Hypertension Treatment Study (OHTS), que identificou PIO elevada, CCT mais fina, relação escavação/disco vertical maior, idade avançada e defeitos de campo visual precoces como fatores chave de risco para glaucoma. O OHTS demonstrou que o tratamento reduziu pela metade o risco de desenvolvimento de glaucoma em 5 anos e confirmou uma redução sustentada de 50% em 10 anos. A ferramenta de PR utilizada no estudo por Wu et al. foi desenvolvida a partir de dados tanto do OHTS quanto do European Glaucoma Prevention Study (EGPS), incorporando variáveis adicionais como hipertensão sistêmica e diabetes.

    Apesar da estratégia de PR tratar mais pacientes (99% versus 47% no cuidado padrão), ela se manteve mais custo-efetiva em uma análise de caso-base. Esses achados reforçam o valor da estratificação baseada em risco para guiar decisões de tratamento para HO.

    Considerações para a Prática Clínica

    Atualmente, nos Estados Unidos, a HO é tipicamente definida como uma PIO superior a 21 mmHg sem dano ao nervo óptico. No entanto, a obtenção de medidas precisas da PIO pode ser desafiadora devido à variabilidade nos dispositivos, biomecânica da córnea e tolerância do nervo óptico. Além disso, a PIO sozinha é um preditor limitado da progressão glaucomatosa, dificultando o estabelecimento de diretrizes de monitoramento padronizadas. O US Preferred Practice Pattern para HO recomenda o acompanhamento com base no perfil de risco individual, considerando comorbidades, histórico familiar, idade e outros fatores. Pacientes de baixo risco podem ser vistos anualmente ou bienalmente, enquanto pacientes de alto risco requerem visitas mais frequentes. Essas recomendações se alinham com a preferência da maioria dos pacientes por um intervalo de 12 meses, conforme encontrado nos estudos. Atualmente, não existem diretrizes estabelecidas sobre o peso relativo dos fatores de risco.

    Em suma, a integração das preferências do paciente com ferramentas de predição de risco multifatoriais oferece um caminho promissor para um manejo mais eficaz e custo-efetivo da hipertensão ocular, melhorando a adesão e os desfechos para os pacientes

    Referência Bibliográfica:

    HTTPS://FYRA.IO. Monitoring Ocular Hypertension – Glaucoma Today. Disponível em:
    https://glaucomatoday.com/articles/2025-july-aug/monitoring-ocular-hypertension

    Contato
    Políticas

    Oftalmo News • 2025 • Todos os direitos reservados.

  • Edicao7

    👁️ EDIÇÃO 7 – Agosto 2025

    Implante de LIOs Premium em olhos glaucomatosos

    Com o aumento da expectativa de vida, aumenta a incidência global de catarata e glaucoma, e com a expectativa crescente dos pacientes por maior independência dos óculos, a implantação de lentes intraoculares premium, incluindo as que corrigem presbiopia e as tóricas, tem se tornado cada vez mais comum. Tradicionalmente, muitos cirurgiões agem com cautela ao implantar essas lentes em olhos com glaucoma, devido a preocupações com a perda de sensibilidade ao contraste e a distúrbios visuais como brilhos e halos. No entanto, avanços significativos na tecnologia das LIOs e na cirurgia de catarata têm levado a resultados refrativos mais precisos e previsíveis, com menos efeitos colaterais.

    Resultados de estudos recentes sobre LIOs premium em pacientes com glaucoma têm demonstrado desfechos promissores. Uma revisão sistemática abrangente avaliou o uso dessas lentes em pacientes com glaucoma. Dos 1404 registros iniciais, 12 estudos foram incluídos na revisão final, totalizando 399 olhos glaucomatosos.

    Independência dos Óculos e Acuidade Visual:
    • Cinco estudos relataram altas taxas de independência de óculos para visão de longe. Estes resultados foram consistentes em diferentes tipos de lentes, incluindo bifocais, trifocais e tóricas.
    • Houve resultados favoráveis para a acuidade visual de longe sem correção e a acuidade visual intermediária sem correção com lentes de profundidade de foco estendida.
    • Um estudo destacou que a acuidade visual de longe sem correção foi significativamente melhor em olhos com glaucoma implantados com lentes tóricas em comparação com lentes não tóricas.
    • É notável que pacientes com perda grave de campo visual ainda alcançaram excelente visão pós-operatória sem correção quando lentes intraoculares tóricas foram implantadas.

    Sensibilidade ao Contraste e Distúrbios Visuais:
    • Cinco estudos indicaram que os valores de sensibilidade ao contraste pós-operatória em olhos glaucomatosos permaneceram comparáveis aos de indivíduos saudáveis após a implantação de lentes multifocais e de profundidade de foco estendida.
    • Embora alguns pacientes tenham relatado algum nível de brilho ou halos, a grande maioria não se incomodou com esses sintomas. Não houve diferença significativa na incidência de distúrbios visuais entre lentes de profundidade de foco estendida e monofocais em olhos glaucomatosos.

    Correção do Astigmatismo:
    • Lentes intraoculares tóricas demonstraram fornecer bons resultados para o astigmatismo em olhos glaucomatosos, tanto em cirurgias de catarata isoladas quanto em combinação com cirurgias para glaucoma.

    Satisfação do Paciente:
    • Estudos sugeriram um alto nível de satisfação do paciente após a implantação de lentes intraoculares premium. Dois estudos relataram maior satisfação pós-operatória em olhos glaucomatosos em comparação com olhos de controle, e uma alta porcentagem de pacientes afirmou que escolheria a mesma lente novamente.

    Considerações Essenciais para a Implantação de Lentes Premium em Olhos com Glaucoma

    A literatura discute uma série de fatores que devem ser considerados ao contemplar a implantação de lentes intraoculares premium em olhos com glaucoma. A seleção do paciente deve ser individualizada com base em fatores anatômicos e funcionais.

    Sensibilidade ao Contraste:
    • A sensibilidade ao contraste é a medida da capacidade de um indivíduo em detectar a diferença de luminância entre duas áreas. No glaucoma, a diminuição da sensibilidade ao contraste é bem documentada e correlaciona-se com o grau de dano glaucomatoso estrutural e funcional.
    • Lentes multifocais, particularmente as refrativas, podem resultar em diminuição da sensibilidade ao contraste, sendo a sensibilidade mesópica pior que a fotópica, e a perda maior em frequências espaciais mais altas após a implantação. Parte da energia da luz pode ser perdida para ordens de difração superiores, o que também pode levar a brilho e halos.
    • Portanto, embora lentes multifocais possam ser consideradas em pacientes com glaucoma inicial ou hipertensão ocular controlada, elas devem ser evitadas em pacientes com glaucoma avançado e descontrolado.
    • Alternativamente, as lentes de foco estendido podem ser vantajosas, pois não diminuem a sensibilidade ao contraste. As lentes asféricas também têm demonstrado melhorar os resultados da sensibilidade ao contraste após a cirurgia de catarata.

    Defeitos do Campo Visual Glaucomatoso:
    • A gravidade, extensão e localização dos defeitos do campo visual glaucomatoso são considerações importantes.
    • Revisões anteriores sugerem que apenas suspeitos de glaucoma e pacientes com hipertensão ocular sem dano no disco óptico ou campo visual, que estejam estáveis por um longo período, sejam candidatos à implantação de lentes multifocais. Lentes multifocais podem causar uma depressão significativa no desvio médio dos testes de campo visual automatizado padrão.

    Subtipo de Glaucoma:
    • Glaucoma Pseudoexfoliativo: Lentes premium são geralmente evitadas devido a pupilas com dilatação deficiente, maior risco de instabilidade zonular, pressão intraocular descontrolada no pós-operatório, inflamação, opacificação capsular posterior, subluxação da lente e desalinhamento do eixo. A cirurgia em pacientes com pseudoexfoliação também pode aumentar o risco de instabilidade refrativa. Lentes premium exigem centração precisa para resultados ótimos.
    • Ângulo Fechado: Pacientes com suspeita de fechamento angular primário podem se beneficiar da cirurgia de catarata, que pode abrir o ângulo. No entanto, a iridotomia periférica a laser prévia está associada a um maior risco de comprometimento zonular e subluxação da lente.

    Doença da Superfície Ocular:
    • A doença da superfície ocular é comum em pacientes com glaucoma, presente em 59% deles, muitas vezes exacerbada pelo uso crônico de colírios antiglaucomatosos.
    • Pode levar a biometria e topografia imprecisas, resultando em seleção inadequada da lente intraocular. É crucial otimizar a superfície ocular antes da biometria para garantir medições precisas e o cálculo correto do poder da lente.

    Comprimento Axial e Profundidade da Câmara Anterior:
    • Olhos com glaucoma podem apresentar extremos no comprimento axial: glaucoma de ângulo aberto associado à alta miopia tendem a ter comprimento axial aumentado, enquanto olhos com ângulo fechado tendem a ter comprimentos axiais mais curtos.
    • Embora as fórmulas modernas de cálculo de lente intraocular sejam precisas mesmo para comprimentos axiais extremos, grandes mudanças na profundidade da câmara anterior podem aumentar o risco de erro refrativo pós-operatório.

    Tipo de Cirurgia para Glaucoma:
    • Cirurgia Combinada de Facoemulsificação e Trabeculectomia: Pode resultar em um maior risco de desvio míope e instabilidade refrativa, bem como astigmatismo induzido cirurgicamente. Isso pode dificultar a implantação de lentes premium. Mudanças biométricas significativas podem ocorrer após a trabeculectomia. No entanto, a cirurgia de catarata isolada realizada mais tarde (pelo menos 3 a 6 meses) após a trabeculectomia pode permitir a estabilização dos resultados refrativos e das medições oculares, o que não impediria o uso de lentes intraoculares premium, especialmente as tóricas, nesses pacientes.
    • MIGS: Geralmente são cirurgias refrativamente neutras com um alto perfil de segurança. As MIGS de base angular (como as séries iStent e Kahook Dual Blade) são consideradas favoráveis para a implantação de lentes intraoculares premium. As MIGS subconjuntivais são menos propensas a induzir astigmatismo significativo em comparação com a trabeculectomia.

    Monitoramento Funcional e Estrutural do Glaucoma:
    • Lentes multifocais podem afetar a sensibilidade dos testes investigativos para progressão do glaucoma, incluindo avaliação do campo visual e imagens do nervo óptico. Elas podem causar artefatos ondulados em imagens de tomografia de coerência óptica e reduzir a sensibilidade visual na perimetria automatizada padrão.

    Conclusão

    Em resumo, embora a pesquisa sobre o uso de LIOs premium em pacientes com glaucoma ainda seja limitada, os resultados até agora são promissores. Há alta independência dos óculos, especialmente para a visão de longe, e a sensibilidade ao contraste é comparável à de indivíduos saudáveis. No entanto, ainda pode haver evidências insuficientes para apoiar a segurança da implantação de lentes premium em pacientes com glaucoma avançado.

    A seleção da LIO deve ser altamente individualizada, considerando o perfil do paciente, suas expectativas visuais, o subtipo e a gravidade do glaucoma, a presença de defeitos no campo visual, a condição da superfície ocular e o tipo de cirurgia para glaucoma planejada.

    Referência Bibliográfica:

    HONG, A. S. Y. et al. Premium Intraocular Lenses in Glaucoma—A Systematic Review. Bioengineering, v. 10, n. 9, p. 993, 22 ago. 2023.

    PDS com Ranibizumabe: Uma Nova Era para o Tratamento do Edema Macular Diabético

    O Sistema de Entrega por Porta (PDS) com Ranibizumabe

    O PDS é um sistema de liberação de medicamentos que fornece entrega contínua intraocular de ranibizumabe através de um implante ocular cirurgicamente colocado e recarregável. Foi aprovado nos EUA em outubro de 2021 para degeneração macular neovascular relacionada à idade (DMRIn).

    Em outubro de 2022, houve um recall voluntário do implante PDS devido a problemas de desempenho, classificado pela FDA como Classe III (pouco provável de causar consequências adversas à saúde). Após a implementação de melhorias no implante, o recall voluntário foi suspenso em abril de 2024, e as atualizações receberam aprovação da FDA em julho de 2024, sendo reintroduzidas no mercado dos EUA para DMRIn. Em fevereiro de 2025, o PDS com ranibizumabe (100 mg/mL) foi aprovado nos EUA para pacientes com EMD, com trocas de recarga a cada 24 semanas (PDS Q24W).

    Desenho do Estudo Pagoda

    O estudo Pagoda foi conduzido em 87 locais nos EUA.
    • Objetivo: avaliar a eficácia e a segurança do ranibizumabe via PDS Q24W em comparação com injeções intravítreas mensais de ranibizumabe (0,5 mg) em pacientes com EMD.
    • População: pacientes virgens de tratamento com EMD de envolvimento central, com pelo menos 18 anos de idade.
    • Randomização: um total de 634 participantes foram randomizados em uma proporção de 3:2, sendo 381 para o grupo PDS Q24W e 253 para o grupo de ranibizumabe mensal. A idade média (DP) na linha de base foi de 60,7 (9,6) anos, com 57,3% homens e 42,7% mulheres. A população do estudo foi diversificada, incluindo 14,7% de participantes negros ou afro-americanos e 77,1% brancos.
    • Intervenção:
      • Grupo PDS Q24W: recebeu 4 doses de ranibizumabe (0,5 mg) mensalmente por via intravítrea até a semana 12, seguidas pela implantação do PDS na semana 16 (ou semana 20 se adiado). As trocas de recarga do PDS (com ranibizumabe 100 mg/mL) ocorreram a cada 24 semanas a partir de então. O tratamento suplementar com ranibizumabe (0,5 mg) era possível se critérios predefinidos fossem atendidos.
      • Grupo Ranibizumabe Mensal: recebeu 4 doses de ranibizumabe (0,5 mg) mensalmente por via intravítrea, continuando a receber injeções a cada 4 semanas até a semana 60.
    • Desfecho principal: a alteração na acuidade visual melhor corrigida em relação à linha de base, calculada como média nas semanas 60 e 64.

    Principais Descobertas do Estudo Pagoda

    Os resultados do estudo demonstram o potencial do PDS para o tratamento do EMD.

    Resultados de Eficácia:
    • Acuidade Visual Melhor Corrigida (BCVA): o PDS Q24W não foi inferior ao ranibizumabe mensal. A mudança média ajustada na BCVA em relação à linha de base, avaliada nas semanas 60 e 64, foi um aumento de 9,6 letras para o grupo PDS Q24W e de 9,4 letras para o ranibizumabe mensal (diferença de 0,2 letras; IC 95%, -1,2 a 1,6), atendendo ao desfecho primário de não inferioridade (margem de -4,5 letras).
      • Houve uma queda transitória e esperada na visão pós-operatória após a implantação do PDS, com uma diminuição média (DP) de 6,7 (12,0) letras 4 semanas após a inserção do PDS. A visão média no grupo PDS Q24W voltou a ser similar à do grupo ranibizumabe mensal 16 semanas após a inserção do implante.
    • Espessura Central da Subfóvea (CST): as reduções na CST foram comparáveis entre os braços, com mudanças médias em relação à linha de base de -203,5 μm no grupo PDS Q24W e -199,7 μm no grupo ranibizumabe mensal.
    • Pontuação de Gravidade da Retinopatia Diabética (DRSS): uma melhora de 2 ou mais passos na DRSS foi observada em 39,0% dos participantes do PDS Q24W e 41,9% dos participantes do ranibizumabe mensal na semana 64 na população de eficácia. Embora a não inferioridade não tenha sido formalmente atingida nesta população, ela foi atingida na população mITT (participantes que aderiram ao cronograma de inserção do PDS conforme o protocolo). Esses resultados de DRSS são favoráveis em comparação com ensaios anteriores de anti-VEGF em EMD.
    • Necessidade de Tratamento Suplementar: mais de 95% dos participantes do PDS Q24W não necessitaram de ranibizumabe intravítreo suplementar durante os intervalos de recarga, demonstrando a durabilidade da terapia.

    Resultados de Segurança:
    • Eventos Adversos de Interesse Especial (AESIs): foram mais comuns no grupo PDS Q24W (27,5% dos participantes) do que no grupo ranibizumabe mensal (8,9% dos participantes). A maioria dos eventos no grupo PDS Q24W ocorreu no período pós-operatório (até 37 dias após a implantação).
    • Eventos Comuns no Grupo PDS Q24W: incluíram hemorragia vítrea (9,7%), bleb conjuntival (7,8%), erosão conjuntival (1,9%) e retração conjuntival (1,3%). A maioria desses eventos foi não grave, leve ou moderada em severidade e resolveu-se espontaneamente. Houve 12 AESIs graves no braço PDS Q24W, incluindo 5 erosões conjuntivais e 4 blebs conjuntivais.
    • Ausência de Endoftalmite ou Descolamento de Retina: notavelmente, nenhum caso de endoftalmite ou descolamento de retina foi relatado no grupo PDS Q24W ao longo de 64 semanas. Isso representa uma melhoria em relação à taxa de endoftalmite observada em ensaios anteriores do PDS para DMRIn (1,6% no estudo Archway).
    • Perfil de Segurança Sistêmica: o perfil de segurança sistêmica do PDS Q24W foi comparável ao do ranibizumabe mensal.

    Implicações

    O estudo Pagoda conclui que o ranibizumabe contínuo via PDS, com trocas de recarga a cada 24 semanas, oferece um tratamento eficaz, durável e geralmente bem tolerado para o EMD, com resultados visuais comparáveis às injeções mensais. Esta nova modalidade tem o potencial de reduzir substancialmente a frequência do tratamento com anti-VEGF para uma vez a cada 6 meses, mantendo os ganhos funcionais e anatômicos. Embora o estudo tenha mantido visitas mensais para ambos os grupos para fins de pesquisa, a aplicação do PDS na prática clínica pode se traduzir em menos consultas clínicas e menor interrupção na vida profissional e social dos pacientes, com potenciais efeitos positivos na qualidade de vida. A aprovação do PDS para EMD em fevereiro de 2025 representa um marco importante, oferecendo uma nova ferramenta para gerenciar esta doença crônica e tem o potencial de mudar o paradigma de tratamento para doenças da retina diabética, possivelmente melhorando a adesão e os resultados visuais na prática clínica.

    Referência Bibliográfica:

    KHANANI, A. M. et al. Continuous Ranibizumab via Port Delivery System vs Monthly Ranibizumab for Treatment of Diabetic Macular Edema. JAMA Ophthalmology, 6 mar. 2025.

    Análogos de GLP-1 e Eventos Adversos Oculares

    Principais Achados do Estudo:
    • Tirzepatida e Eventos Adversos Oculares: ◦ A tirzepatida, em contraste, mostrou associações oculares limitadas, sendo a retinopatia diabética a única associação significativa observada no FAERS. Não foram encontradas associações significativas de EAs oculares com a tirzepatida no VigiBase. A diferença nos perfis de segurança ocular entre semaglutida e tirzepatida pode ser atribuída ao mecanismo de ação dual da tirzepatida como análogos de GLP-1 e GIP, e sua menor afinidade pelo receptor GLP-1.

    • Semaglutida e Eventos Adversos Oculares: ◦ A semaglutida demonstrou consistentemente maiores chances de eventos adversos oculares em ambos os bancos de dados. ◦ Houve uma associação significativamente maior com a neuropatia óptica isquêmica (NOI). Em FAERS, o ROR foi de 11,12 (IC 95% = 8,15-15,16) e em VigiBase, 68,58 (IC 95% = 16,75-280,67). Notavelmente, essa associação foi significativa mesmo quando a insulina foi usada como comparador (ROR = 9,84), sugerindo um potencial mecanismo específico do fármaco que vai além da rápida redução da glicose. Além disso, a comparação com exenatida indicou que a NOI pode ser exclusiva da semaglutida, e não um efeito de classe. ◦ A retinopatia diabética (RD) também apresentou odds significativamente maiores com a semaglutida (FAERS: ROR = 17,28; VigiBase: ROR = 7,81). ◦ Foram observadas associações significativas com descolamento retiniano/vítreo, hemorragia retiniana/vítrea e laceração retiniana. ◦ Achados exclusivos no VigiBase para semaglutida incluíram associação com edema macular (ROR = 3,87), buraco macular (ROR = 20,90) e papiledema (ROR = 6,97). ◦ Em relação ao sexo, a maioria dos EAs (exceto hemorragia vítrea) afetou desproporcionalmente as mulheres (64,25% mulheres, 35,75% homens). A hemorragia vítrea, por outro lado, apresentou uma maior taxa de notificação em homens (54,55% homens, 40,91% mulheres). ◦ A maioria das notificações de EAs (71%) foi feita por profissionais de saúde, exceto para lacerações retinianas (20% por profissionais de saúde, 80% por consumidores), o que confere maior fiabilidade aos sinais detectados.

    Discussão e Implicações Clínicas:

    É importante notar que, embora os análogos de GLP-1 sejam amplamente utilizados para controle glicêmico e manejo de sobrepeso, os mecanismos biológicos que ligam a semaglutida a eventos adversos oculares ainda não estão claros. Uma das hipóteses para a exacerbação da retinopatia é a rápida redução da HbA1c, um fenômeno observado em estudos anteriores como DCCT e UKPDS. Contudo, o estudo sugere que, para a NOI, a associação pode ser devida a um mecanismo específico do fármaco ou a fatores não-glicêmicos, como perda de peso, alterações vasculares ou hemodinâmicas, dado que uma parte significativa dos casos de NOI associados à semaglutida ocorreu em pacientes sem diagnóstico de diabetes.

    As limitações inerentes aos estudos de farmacovigilância incluem o desenho retrospectivo, a dependência de notificações voluntárias e potenciais vieses (confundimento por indicação, viés de seleção). A ausência de dados clínicos detalhados, como o tempo dos EAs em relação ao início do tratamento, o status basal da retinopatia, os níveis de HbA1c e a magnitude da redução glicêmica, limitam a capacidade de estabelecer causalidade definitiva.

    Conclusão:

    Este estudo de grande escala, baseado em dados do mundo real, ressalta uma associação entre a semaglutida e vários eventos adversos oculares. Embora não seja possível estabelecer causalidade definitiva, as descobertas são cruciais para o desenho de novos estudos e para aprimorar a vigilância pós-comercialização.

    É fundamental que os oftalmologistas estejam cientes desses potenciais riscos em pacientes usuários de análogos de GLP-1, especialmente a semaglutida, e que considerem a educação do paciente sobre os riscos oculares, particularmente aqueles com alto risco basal.

    Apesar das associações observadas, é importante reforçar que a NOI é um evento raro, e o risco absoluto de NOI com semaglutida parece ser baixo quando ponderados os benefícios substanciais que os análogos de GLP-1 oferecem no controle glicêmico, redução de risco cardiovascular e manejo eficaz do peso.

    Referência Bibliográfica:

    LAKHANI, M. et al. Association of Glucagon-like Peptide-1 Receptor Agonists with Optic Nerve and Retinal Adverse Events: A Population-Based Observational Study Across 180 Countries. American Journal of Ophthalmology, 1 maio 2025.

    Contato
    Políticas

    Oftalmo News • 2025 • Todos os direitos reservados.

  • Edicao6

    👁️ EDIÇÃO 6 – Julho 2025

    📰 LIO Tórica em Astigmatismo Irregular? Dois Estudos Reforçam Indicações em Casos Selecionados

    O estudo “Efficacy of toric intraocular lens implantation in individuals with cataracts and asymmetric corneal astigmatism” avaliou a eficácia e segurança do implante de lentes intraoculares tóricas (LIOs tóricas) em pacientes com catarata e astigmatismo corneano assimétrico. Foram analisados 26 olhos de 21 pacientes com astigmatismo ≥ 0,75 D e distribuição assimétrica no centro da córnea, identificada por Pentacam. O cálculo das LIOs foi feito com a fórmula Barrett Toric, e a cirurgia incluiu facoemulsificação com implante da LIO AcrySof IQ Toric no saco capsular.

    Três meses após o procedimento, houve melhora significativa da acuidade visual: a UCVA média passou de 0,70 para 0,18 logMAR e a BCVA de 0,50 para 0,00 logMAR. Em 88% dos casos, a visão não corrigida pós-operatória foi igual ou melhor que a visão corrigida prévia. O astigmatismo residual foi ≤ 1,00 D em 96% dos olhos, com 77% apresentando ≤ 0,50 D. A rotação média da LIO foi de apenas 2,46°, demonstrando boa estabilidade.

    A qualidade visual objetiva foi melhor sob pupilas pequenas (2 mm), com piora progressiva à medida que o diâmetro pupilar aumentava, devido a aberrações de alta ordem como coma e trefoil. Os valores de Strehl e MTF confirmaram essa tendência.

    Conclui-se que a LIO tórica é eficaz e segura em casos selecionados de astigmatismo corneano assimétrico com componente central regular. A qualidade visual é melhor com pupilas menores, e o sucesso depende de avaliação pré-operatória criteriosa, especialmente em relação à regularidade da zona central da córnea.

    The Effect of Toric Intraocular Lens Implantation in Irregular Corneal Steep and Flat Meridian:

    Este estudo retrospectivo avaliou a eficácia do implante de lentes intraoculares tóricas em pacientes com catarata e astigmatismo corneano irregular, com foco específico em desvios no meridiano mais curvo (steep) e nos meridianos curvo e plano (steep and flat). Foram analisados 112 olhos de 78 pacientes submetidos à cirurgia com LIO tórica Tecnis ZCT. Os desvios foram medidos com a Pentacam, sendo definidos como a diferença angular entre os eixos corneanos esperados (180° para o meridiano mais curvo e 90° entre os meridianos curvo e plano) e os valores reais obtidos. Em outras palavras, o estudo não considera “desvio” como o tipo de astigmatismo (por exemplo, a favor ou contra a regra), mas sim o grau de irregularidade do eixo — quanto mais afastado dos valores esperados, mais irregular a córnea.

    A acuidade visual não corrigida (UCVA) e corrigida (BCVA) melhoraram significativamente após a cirurgia. O cilindro do autorrefrator médio caiu de 2,21 D para 0,57 D, e a rotação média da lente foi de 3,2°, considerada estável. No entanto, pacientes com desvios angulares superiores a 10° (ou seja, com meridianos significativamente desalinhados em relação ao padrão simétrico corneano) apresentaram menor ganho visual e maior astigmatismo residual. Houve correlação direta entre o aumento desses desvios e os valores residuais de astigmatismo.

    Em resumo, pacientes com córneas mais simétricas — ou seja, com eixos próximos de 180° (meridiano mais curvo) e 90° entre os meridianos curvo e plano — obtiveram os melhores resultados, independentemente de o astigmatismo ser a favor ou contra a regra. O estudo conclui que a LIO tórica pode ser eficaz mesmo em casos de astigmatismo irregular, desde que os desvios de eixo sejam pequenos (menores que 10°). Acima disso, a precisão da correção diminui, sendo necessário avaliar cuidadosamente a regularidade do eixo corneano antes da cirurgia.

    Take-Home Message

    A lente intraocular tórica pode ser uma opção eficaz e segura para pacientes com catarata e astigmatismo irregular ou assimétrico, desde que exista uma zona óptica central mensurável e regular. Em casos com astigmatismo assimétrico (diferenças >1.2 D entre meridianos) ou com desvios dos meridianos corneanos <10° daquilo que é considerado o ideal, os resultados refrativos e visuais são significativamente melhores. A análise do comportamento da pupila é essencial: pupilas menores tendem a preservar melhor a qualidade óptica, enquanto diâmetros maiores podem expor áreas irregulares da córnea, comprometendo o desempenho visual. O sucesso depende de planejamento cirúrgico rigoroso, consistência entre plataformas diagnósticas e alinhamento preciso da lente.

    Referência Bibliográfica:

    1 – Hwang, H. S., Kim, H. S., Kim, M. S., & Kim, E. C. (2021). The Effect of Toric Intraocular Lens Implantation in Irregular Corneal Steep and Flat Meridian. Journal of Ophthalmology, 2021, Article ID 6637479. https://doi.org/10.1155/2021/6637479 2 – Xue, J., Pan, A., Shao, X., & Xu, X. (2025). Efficacy of toric intraocular lens implantation in individuals with cataracts and asymmetric corneal astigmatism. Photodiagnosis and Photodynamic Therapy, 52, 104515

    Você Está Praticando Medicina Como Se Fosse 2019 (E Perdendo a Revolução Mais Importante da História)

    Enquanto Dr. João Marcelo Lyra desenvolve uma lente com IA em milhões de simulações e o Google treina algoritmos para diagnosticar retinopatia diabética, você ainda analisa exames “no olho” e faz anotações à mão.

    Você conhece médicos que passam 3 horas realizando relatórios e laudos, sendo que a IA consegue processar em 30 segundos?

    Ou aqueles profissionais que “chutam” diagnósticos em vez de usar algoritmos treinados com milhões de casos clínicos?

    Conhece alguém assim? Pois é, eu já tive comportamentos parecidos.

    Já gastei 10 minutos para fazer um laudo que poderia ser feito em 10 segundos, já fiquei em dúvida de condutas, sendo que poderia ter discutido o caso clínico com especialistas que tem todo o conhecimento do mundo (sim, a IA). Ficava quebrando cabeça no consultório fazendo relatórios que poderiam ser automatizados.

    E sabe o mais impressionante? Eu achava que isso me fazia um médico dedicado.

    E o resultado para a maioria dos médicos? Burnout, consultas atrasadas, e a sensação constante de estar sendo deixado para trás por algo que não conseguia definir.

    Sabe o que mudou do médico de 2019 que fazia tarefas burocráticas manualmente para o de 2025 que usa IA para diagnosticar, prescrever e até desenvolver tratamentos personalizados?

    Ele parou de escolher ficar cego.

    Porque é isso que fazemos quando insistimos em trabalhar com métodos antigos quando existe uma revolução acontecendo. Escolhemos não enxergar que a medicina mudou para sempre.

    A ferramenta para enxergar sempre esteve lá. Mas preferimos continuar no borrado porque aceitar que existe uma forma melhor significa aceitar que poderíamos estar salvando mais vidas, tratando melhor, diagnosticando mais rápido.

    Sabe por que escolhemos ficar cegos quando os “óculos da IA” estão bem na nossa frente?

    Porque é mais fácil fingir que não sabemos do que admitir que estávamos praticando medicina do século passado.

    E agora apareceu um tipo completamente novo de “superinteligência médica” que a maioria dos profissionais nem sabe que existe.

    Eric Topol, cardiologista e pesquisador da Scripps, foi direto ao ponto: no futuro, não usar IA na medicina vai colocar você em desvantagem cognitiva. Como um médico que precisa de óculos mas insiste em operar sem eles.

    Enquanto grandes hospitais brigam por equipamentos caros e sistemas tradicionais, ele apostou uma carreira inteira numa ideia diferente: democratização da superinteligência médica.

    Imagens da retina podem revelar o controle de diabetes, pressão arterial, doenças renais e hepáticas, escore de cálcio do coração, doença de Alzheimer (antes dos sintomas), risco de ataques cardíacos e derrames, hiperlipidemia e até doença de Parkinson sete anos antes de qualquer sintoma.

    Algoritmos que analisam milhões de exames antes de chegar à sua mesa, que aprendem com casos clínicos globais, e que viram a interface perfeita entre seu conhecimento e a precisão diagnóstica.

    Para bancar isso, empresas como Google, Microsoft e IBM investiram bilhões em modelos médicos específicos. Projetos chamados MAI-DxO e MedGemma. Tudo validado com exemplos reais.

    Essa semana mesmo, estou testando IA (que você pode ter acesso no seu celular) para análise de exames oftalmológicos em tempo real no meu consultório. É só o começo de algo que vai mudar como praticamos medicina.

    Literalmente.

    Mas enquanto as big techs brigam pelos territórios, uma coisa já ficou clara: quem está usando essas “ferramentas inteligentes” hoje está oferecendo cuidados que outros nem sabem que são possíveis.

    E quem não está? Continua achando que intuição médica supera dados de milhões de casos.

    A pergunta é: você vai continuar escolhendo ficar cego ou vai colocar os óculos da IA antes que seja tarde demais?

    O que está rolando nos bastidores enquanto você decide…?

    Por Que o Google Está Revolucionando Enquanto Médicos Ainda Resistem

    O que está rolando nos bastidores é uma corrida silenciosa pelos algoritmos que vão definir o futuro da medicina.

    No último ano, o Google fez algo que mudou tudo: criou modelos, treinou, para que possam ter a capacidade de interpretar e discutir casos reais na área da saúde.

    Não foi caridade. Foi estratégia.

    Eles entenderam que treinar IA médica com casos reais de hospitais do mundo inteiro cria um conhecimento coletivo que nenhum médico individual pode competir.

    Sabe o que eles podem fazer hoje?
    • Analisar radiografias de tórax com 94% de precisão (média de radiologistas é 91%)
    • Processar 10.000 exames de retina por hora detectando retinopatia diabética
    • Sugerir diagnósticos diferenciais baseados em 280 milhões de casos clínicos
    • Gerar relatórios médicos em 12 idiomas diferentes
    • Identificar padrões em exames que olho humano não consegue ver

    Enquanto médicos discutem se “IA vai substituir o profissional”, ela já está sendo a segunda opinião de radiologistas com ganho de 40% no número de laudos/hora graças à IA generativa.

    A diferença é que o Google não quer substituir médicos. Quer amplificar o que você já faz bem.

    Mas aqui está o que realmente importa: isso não é sobre tecnologia futurista.

    É sobre você ter acesso hoje ao que grandes centros médicos usam para se destacar.

    Não é coincidência que isso está acontecendo agora.

    Porque quem controlar a IA aplicada à medicina vai definir como bilhões de pessoas vão ser tratadas nos próximos 20 anos.

    O Google entendeu que a corrida não é para criar a IA mais complexa.

    É para criar a IA que mais médicos vão conseguir usar.

    E enquanto isso acontece nos laboratórios, lá fora o movimento está ganhando velocidade de uma forma que poucos esperavam…

    A Revolução Está Chegando nos Consultórios

    E quando falo que o movimento está ganhando velocidade, não é exagero.

    Microsoft — a empresa que domina 90% dos computadores médicos — lançou o Copilot for Healthcare.

    Não é só mais um software médico. É inteligência artificial que lê seus casos, sugere condutas baseadas em guidelines atualizados e até redige relatórios médicos automaticamente.

    Se tem uma coisa que Microsoft entende é como tornar tecnologia parte da rotina. E se eles estão apostando nisso na medicina, é porque viram algo que a maioria ainda não percebeu.

    Mas aí que fica interessante.

    Do outro lado do mundo, a Rayner conseguiu reduzir desenvolvimento de lentes intraoculares de 8 anos para 4 anos usando IA para simular milhões de interações ópticas.

    A RayOne Galaxy, desenvolvida em parceria com Dr. João Marcelo Lyra, é a primeira lente intraocular criada por algoritmos de machine learning.

    E tem uma ironia brutal nisso: enquanto médicos brasileiros discutem se IA é confiável, um oftalmologista brasileiro está criando a tecnologia que o mundo inteiro vai querer usar.

    Sabe o que isso significa?

    A revolução não está vindo. Já chegou.

    É como se você tivesse a ferramenta mais avançada do mundo disponível no seu smartphone, mas ainda preferisse usar fax pra receber resultado de exame.

    O que você faria?

    Exato. Pararia de resistir e começaria a usar.

    Enquanto isso, todo mundo está se mexendo. Microsoft integrando IA em prontuários. Google democratizando diagnóstico por imagem. Médicos brasileiros liderando inovação global.

    E a velocidade está tão alta que quem hesita nem consegue acompanhar mais.

    Você Pode Implementar IA na Sua Prática Hoje Mesmo

    “Tudo bem, mas o que eu tenho a ver com isso?”

    Tudo.

    Porque aqui está a oportunidade que poucos perceberam: você está no momento ideal para se destacar implementando IA acessível na sua rotina.

    62% dos médicos relatam burnout por excesso de tarefas administrativas que poderiam ser automatizadas. Isso significa que a corrida agora não é por mais conhecimento técnico – é por eficiência inteligente.

    Por que o CFM já está falando sobre IA? Por que grandes hospitais adotaram massivamente? Por que os resultados foram tão consistentes?

    Porque eles entenderam algo fundamental: quem souber aplicar IA no dia a dia vai multiplicar sua capacidade de atendimento, precisão diagnóstica e retorno financeiro.

    Eles não precisam de médicos que entendam programação. Precisam de profissionais que transformem algoritmos avançados em cuidado real que funciona.

    Enquanto outros discutem teoria, as ferramentas para implementar IA já estão disponíveis no seu celular.

    E aqui está onde a oportunidade fica clara: não precisa ser especialista em tecnologia, nem ter orçamento de hospital. Precisa parar de escolher ficar cego para a revolução.

    Lembra do que falei na introdução? Analisar exames por horas quando poderia processar em minutos com IA.

    A diferença entre resistir à mudança e abraçar a evolução não é conhecimento técnico. É parar de escolher enxergar borrado quando os óculos da IA estão bem na frente.

    Agora você pode fazer o mesmo com ferramentas acessíveis:
    • Use ChatGPT para segunda opinião em casos complexos
    • Implemente análise automática de topografia no seu consultório – alta precisão
    • Automatize laudos de exames de rotina – reduza 80% do tempo
    • Configure alertas inteligentes para acompanhamento de pacientes crônicos

    Enquanto big techs brigam por bilhões, você pode ter acesso à inteligência artificial que elas usam para impressionar congressos médicos.

    A diferença é que você não precisa contratar um time de desenvolvedores de IA.

    Você precisa de alguém que entenda exatamente como implementar IA médica na SUA especialidade, com os SEUS pacientes, na SUA rotina diária.

    Não é para todo médico. É para quem realmente quer fazer parte da revolução.

    Sabe porque você chegou até aqui?

    Claro que usei IA para me ajudar a escrever esse texto.

    E aí você pensou agora “que triste, achei que era um texto bem feito e persuasivo, que prendeu minha atenção, feito por um oftalmologista… mas foi só mais uma da IA”

    E eu te respondo: Negativo! As ideias são minhas, a IA só me ajuda a enxergar melhor o que já está aqui dentro.

    Pois médicos inteligentes usam inteligência artificial

    Júlio Rezende de Andrade | @julioandrade.ia

    Terapia de Luz Vermelha de Baixo Nível Repetida (RLRL) para o Controle da Miopia: Eficácia e Segurança Atual

    A miopia, um erro refrativo comum que leva à visão embaçada de objetos distantes, está em ascensão global, com projeções indicando que quase metade da população mundial será míope até 2050. A miopia alta, especificamente acima de -6,00 dioptrias, pode resultar em complicações graves e perda irreversível da visão. Diante desse cenário, intervenções precoces são cruciais. A Terapia de Luz Vermelha de Baixo Nível Repetida (RLRL) emergiu como uma promissora modalidade de tratamento para controlar a progressão da miopia em crianças e adolescentes.

    A RLRL é um tratamento não-invasivo que utiliza irradiação repetida de luz vermelha de baixa intensidade (geralmente 650 ± 10 nm de comprimento de onda) em ambos os olhos.

    Apesar de seu potencial para controlar o crescimento axial ocular, seus efeitos a longo prazo nos fotorreceptores da retina permanecem relativamente desconhecidos.

    Estudo de Eficácia: Comparação de Intervenções para o Controle da Miopia (Zheng et al., 2025)

    Uma meta-análise em rede recente e abrangente, publicada no British Journal of Ophthalmology, comparou a eficácia de diferentes intervenções para o controle da miopia em crianças.

    Objetivo e Metodologia:
    • Objetivo: Comparar a eficácia de intervenções como 0,01% atropina (AP), ortoceratologia (Ortho-k), terapia RLRL e suas combinações.
    • Design: Revisão sistemática e meta-análise em rede de ensaios clínicos randomizados (RCTs).
    • Resultados Primários: Mudanças médias no equivalente esférico cicloplégico (SE) e no comprimento axial (AL) em 12 meses de acompanhamento.
    • Dados: Análise de 41 RCTs, totalizando 6434 olhos.

    Principais Descobertas de Eficácia:
    • Todas as intervenções eficazes: Comparado ao grupo controle, todas as intervenções analisadas (RLRL, 0,01% AP, Ortho-k e 0,01% AP + Ortho-k) foram eficazes em retardar a progressão da miopia.
    • RLRL: AL −0,31 mm; SE 0,76 D (em 12 meses).
    • 0,01% Atropina: AL −0,13 mm; SE 0,25 D (em 12 meses).
    • Ortho-k: AL −0,16 mm; SE 0,58 D (em 12 meses).
    • 0,01% Atropina + Ortho-k: AL −0,27 mm; SE 0,76 D (em 12 meses).
    • RLRL é a mais eficaz: A classificação de probabilidade cumulativa (que combina evidências diretas e indiretas) sugeriu que a terapia RLRL foi a intervenção mais eficaz no retardo do alongamento axial (AL).
    • Classificação para AL (12 meses): RLRL (G3,4%) > 0,01% AP + Ortho-k (80,G%) > Ortho-k (42,8%) > 0,01% AP (32,8%).
    • Classificação para SE (12 meses): RLRL (80,8%) > 0,01% AP + Ortho-k (80,0%) > Ortho-k (60,4%) > 0,01% AP (28,3%).
    • Isso indica que a RLRL se destaca como a intervenção mais eficaz para o controle da miopia a longo prazo, tanto para AL quanto para SE.

    Mecanismos Propostos para a RLRL: Apesar da eficácia, o mecanismo da RLRL ainda não é completamente claro. No entanto, pesquisas sugerem três potenciais mecanismos:
    • Melhora do Fluxo Sanguíneo Coroidal: A RLRL pode aliviar a hipóxia escleral (falta de oxigênio na esclera) ao aumentar o fluxo sanguíneo coroidal, o que reduziria o estresse oxidativo e a inflamação, e aumentaria os níveis de colágeno escleral.
    • Aumento da Espessura Coroidal: A terapia pode inibir o alongamento axial aumentando a espessura da coroide, reduzindo o crescimento da cavidade vítrea.
    • Reposicionamento da Retina: Uma coroide mais espessa empurra a retina para a frente, diminuindo a distância da córnea à retina e, consequentemente, retardando o alongamento axial. Alguns estudos relataram que a RLRL pode até reverter o aumento da dioptria e do AL.

    Comparação com Outras Terapias:
    • Ortoceratologia (Ortho-k): Utiliza lentes de contato noturnas para achatar a córnea e reduzir o desfoque hiperópico periférico. É eficaz, mas seu efeito no equivalente esférico pode ser superestimado se não for medido após a descontinuação do uso, devido à remodelação temporária da córnea.
    • Atropina (AP): Um agente farmacológico que inibe significativamente o alongamento axial e as mudanças no SE. A eficácia depende da concentração, com baixas doses de 0,01% sendo bem toleradas e com mínimos efeitos colaterais. A Atropina atua modulando receptores de acetilcolina que regulam sinais de crescimento na retina e esclera.
    • Terapias Combinadas: Estudos mostram que a combinação de intervenções, como AP + Ortho-k, é frequentemente mais eficaz do que intervenções isoladas. Curiosamente, a RLRL superou a terapia combinada AP + Ortho-k em 12 meses, sugerindo um efeito tardio devido ao tempo necessário para a remodelação escleral.

    Estudo de Segurança: Alterações da Densidade dos Cones Após Terapia RLRL (Liao et al., 2025)

    Um estudo de coorte multicêntrico retrospectivo recente, publicado no JAMA Ophthalmology, avaliou as mudanças na densidade dos fotorreceptores de cones em crianças com miopia submetidas à terapia RLRL, utilizando oftalmoscopia a laser de varredura de óptica adaptativa de alta resolução (AOSLO).

    Objetivo e Metodologia:
    • Objetivo: Avaliar as alterações na densidade dos fotorreceptores de cones associadas à terapia RLRL em crianças com miopia.
    • Design: Estudo de coorte retrospectivo multicêntrico, analisando dados de janeiro a março de 2024, focado em crianças chinesas com miopia, com idades entre 5 e 14 anos.
    • Participantes: Incluiu 99 crianças com miopia, sendo 52 no grupo RLRL (97 olhos) que receberam irradiação diária por mais de 12 meses, e 47 no grupo controle (74 olhos) que nunca foram expostas à terapia RLRL.
    • Medidas: A densidade dos fotorreceptores de cones foi medida ao longo de 4 meridianos retinianos, da fóvea central até 4° de excentricidade, usando imagens de AOSLO. Anormalidades do fundo de olho foram avaliadas com AOSLO, OCT e fotografia de fundo.

    Principais Descobertas de Segurança:
    • Redução da Densidade dos Cones: Usuários de RLRL demonstraram diminuição da densidade dos cones, particularmente dentro de 0,5 mm de excentricidade do centro foveal, sendo mais notável na região temporal. A 0,3 mm de excentricidade temporal, o grupo RLRL apresentou uma diferença média de −2,1 × 10³ células/mm² em comparação com o grupo controle (P = 0,003).
    • Sinais Anormais (Lesões Semelhantes a Drusas): Um total de 11 olhos (de 10 participantes) exibiu sinais anormais de baixa frequência e alto brilho próximos à fóvea. A razão de chances de sinais anormais em usuários de RLRL versus não-usuários foi de 7,23 (P = 0,02), indicando uma ocorrência significativamente maior de anomalias em usuários de RLRL. Essas alterações foram consideradas semelhantes a manifestações de danos do tipo drusas. Drusas são depósitos sub-retinianos geralmente associados ao envelhecimento, e sua maior prevalência em usuários de RLRL levanta preocupações.
    • Anormalidades Cistoides Transitórias: Um participante no grupo RLRL apresentou pequenas cavidades cistoides na camada de células ganglionares no OCT, que apareceram como aglomerados de células nas imagens correspondentes de AOSLO. Notavelmente, essas cavidades se resolveram completamente 3 meses após a interrupção da terapia RLRL, sugerindo que a terapia pode exceder os limites de tolerância do tecido retiniano.

    Conclusões e Relevância para a Segurança:
    • Os resultados sugerem que a terapia RLRL por pelo menos um ano esteve associada à redução da densidade dos cones na fóvea paracentral e outras anormalidades retinianas sutis em algumas crianças que recebem esse tratamento para controle da miopia.
    • Essas descobertas ressaltam a necessidade de mais pesquisas para avaliar a segurança a longo prazo da terapia RLRL em pacientes pediátricos, especialmente considerando a resolução limitada dos equipamentos de diagnóstico tradicionais para observar células fotorreceptoras no nível celular.
    • Embora a dose total de exposição à luz vermelha não tenha se correlacionado diretamente com a densidade dos cones, isso pode ser explicado por variações individuais na sensibilidade da retina ou limitações na quantificação da exposição.

    Considerações Finais e Implicações Clínicas

    Os dois estudos trazem perspectivas complementares sobre a terapia RLRL. Enquanto a meta-análise de Zheng et al. a posiciona como a intervenção mais eficaz para o controle da miopia, a pesquisa de Liao et al. levanta sérias preocupações sobre sua segurança retiniana no nível celular.

    É fundamental que os oftalmologistas considerem ambos os lados da moeda. A eficácia da RLRL em retardar o alongamento axial e a progressão do equivalente esférico é notável. Contudo, a detecção de diminuição da densidade dos cones, sinais anormais semelhantes a drusas e cavidades cistoides transitórias na camada de células ganglionares em crianças sob terapia RLRL exige cautela. Embora as cavidades cistoides tenham se resolvido após a descontinuação do tratamento, as alterações na densidade dos cones e os sinais semelhantes a drusas são achados que merecem investigação rigorosa.

    A comunidade científica deve priorizar estudos futuros para avaliar a segurança a longo prazo da RLRL, especialmente considerando os riscos potenciais de danos oculares quando os limites de exposição são excedidos. A inclusão de avaliações de AOSLO em pesquisas de segurança e eficácia é crucial para monitorar alterações no nível celular. A análise do equilíbrio risco-benefício da RLRL em pacientes pediátricos com miopia é essencial para guiar as decisões clínicas e políticas futuras de intervenção precoce.

    Referência Bibliográfica:

    Zheng Z, Chen Y, Li P, et al. Efficacy comparison of atropine, orthokeratology and repeated low‑level red‑light therapy for myopia control in children: a systematic review and network meta‑analysis. Br J Ophthalmol. 2025. Epub ahead of print. doi:10.1136/bjo‑2025‑327366

    Liao X, Yu J, Fan Y, Zhang Y, Li Y, Li X, Song H, Wang K. Cone Density Changes After Repeated Low‑Level Red Light Treatment in Children With Myopia. JAMA Ophthalmol. 2025 Jun;143(6):480‑488. doi: 10.1001/jamaophthalmol.2025.0835.

    Contato
    Políticas

    Oftalmo News • 2025 • Todos os direitos reservados.

  • Edicao5

    👁️ EDIÇÃO 5 – Julho 2025

    🌌 RayOne Galaxy: A Nova Geração das Lentes Premium Chega ao Brasil

    A oftalmologia está sempre em movimento, e a busca por lentes intraoculares (LIOs) que ofereçam independência dos óculos com qualidade visual consistente é uma demanda constante. As LIOs multifocais vêm sendo o padrão-ouro para pacientes que desejam enxergar bem de longe, intermediário e perto. No entanto, distúrbios visuais como halos, glare e disfotopsias ainda são queixas frequentes, principalmente à noite ou em ambientes com pouca luz, bem como a restrição de uso nos pacientes com comorbidades que possam ocasionar perda de contraste.

    Foi pensando nesse desafio que surgiu a RayOne Galaxy, a primeira lente intraocular com design espiral do mundo. Desenvolvida pela Rayner, no Reino Unido, com o auxílio de inteligência artificial, a Galaxy propõe uma solução inovadora: fornecer uma visão contínua em todas as distâncias, com menor incidência de disfotopsias e transmissão total da luz (0% de perda), algo inédito entre as opções atuais.

    Diferente das LIOs trifocais tradicionais, que utilizam zonas difrativas para dividir a luz em múltiplos focos, a RayOne Galaxy conta com uma ótica espiral não-difrativa. Esse design permite uma transição suave e progressiva entre os diferentes pontos focais, imitando de forma mais natural a acomodação do olho humano. O resultado é uma experiência visual mais fluida, sem os “degraus” ópticos típicos das multifocais convencionais, e com menos halos e brilho, especialmente em situações de baixa iluminação.

    Estudos clínicos internacionais realizados antes do lançamento envolveram mais de 180 olhos em dez países. Os resultados, avaliados em 1 e 3 meses de pós-operatório, mostraram acuidade visual excelente (até 0.1 logMAR) em todas as distâncias, uma curva de defocus contínua com acuidade de até 0.2 logMAR em um range de cerca de 4 dioptrias, e uma taxa de disfotopsia significativamente menor que as LIOs trifocais convencionais. Em um estudo pré-clínico com 30 voluntários, a Galaxy apresentou um perfil de halo mais próximo ao de uma lente monofocal aprimorada do que ao de uma trifocal difrativa.

    Além disso, o tempo de adaptação relatado pelos pacientes tem sido mais curto, o que pode representar uma grande vantagem em relação às lentes multifocais tradicionais, onde a neuroadaptação pode levar semanas ou até meses.

    No Brasil, a novidade já chegou. A primeira cirurgia com a RayOne Galaxy no país foi realizada recentemente pelo Dr. Gustavo Hüning durante o evento Phaco Brazil 2025, marcando a estreia nacional da lente e despertando grande interesse entre os especialistas em cirurgia de catarata.

    A RayOne Galaxy surge como uma alternativa para pacientes que buscam visão de alta performance em todas as distâncias, mas que têm receio dos efeitos colaterais ópticos comuns nas multifocais tradicionais. A promessa é clara: mais independência dos óculos, com mais conforto e menos efeitos adversos.

    Apesar de mais dados a longo prazo ainda serem necessários, os resultados preliminares colocam a RayOne Galaxy como uma forte candidata a ocupar um lugar de destaque entre as LIOs premium do mercado. É possível que estejamos presenciando o início de uma nova geração de lentes, onde clareza, conforto e inovação caminham juntos.

    MIGS: vieram para ficar?

    A Cirurgia Minimamente Invasiva para Glaucoma (MIGS) representa um avanço significativo nas opções de tratamento disponíveis para o glaucoma, a principal causa de cegueira irreversível em todo o mundo. A MIGS oferece uma alternativa para pacientes com doença leve a moderada que não alcançaram o controle ideal da pressão intraocular (PIO) com medicamentos ou laser.

    O Que é MIGS e Seus Propósitos:

    MIGS é um grupo diversificado de técnicas cirúrgicas que visam reduzir a PIO minimizando o trauma da conjuntiva e da esclera. O principal objetivo é melhorar o escoamento do humor aquoso sem os riscos de complicações graves associadas à cirurgia incisional convencional, como trabeculectomias e dispositivos de drenagem para glaucoma.

    A PIO é determinada pelo equilíbrio entre a produção de humor aquoso pelo corpo ciliar e sua drenagem através de duas vias principais: a via trabecular e a via uveo-escleral. Os dispositivos MIGS atuam de três maneiras principais:
    • Melhorando as vias de drenagem existentes: da via trabecular (através da malha trabecular e do canal de Schlemm) ou da via uveo-escleral (drenando para o espaço supracoroidal).
    • Criando uma via alternativa de escoamento: do humor aquoso da câmara anterior para um espaço subconjuntival, formando uma “bolha” (bleb).

    Vantagens da MIGS

    As MIGS oferecem diversas vantagens que impulsionaram sua ampla adoção no tratamento do glaucoma:
    • Menor Morbidade Cirúrgica e Perfil de Segurança Aprimorado: comparadas às cirurgias incisionais, as MIGS geralmente apresentam um risco reduzido de complicações graves, como blebite, endoftalmite, hipotonia e efusões coroidais.
    • Menos Visitas Pós-Operatórias e Reabilitação Visual Mais Rápida: o menor trauma tecidual resulta em um período de recuperação mais rápido.
    • Preservação da Conjuntiva: muitas MIGS, especialmente as baseadas no canal de Schlemm e supracoroidais, preservam a conjuntiva, o que é crucial caso futuras cirurgias sejam necessárias.
    • Redução da Dependência de Medicamentos: as MIGS podem reduzir significativamente a necessidade de colírios, aliviando os efeitos colaterais locais e sistêmicos, os desafios de adesão do paciente e as flutuações de pressão associadas à terapia medicamentosa. Estudos mostraram que pacientes que receberam iStents relataram melhores resultados na qualidade de vida, provavelmente devido à redução da necessidade do uso de colírios.
    • Conveniência: a maioria dos dispositivos MIGS pode ser implantada no momento da cirurgia de catarata, reduzindo o número de procedimentos cirúrgicos que um paciente precisa enfrentar.
    • Técnica Simplificada: as técnicas cirúrgicas da MIGS são geralmente consideradas mais fáceis e rápidas de realizar do que as cirurgias incisionais.

    Categorias e Exemplos de Dispositivos MIGS

    Os dispositivos MIGS são categorizados pelo seu local de ação no olho:

    Dispositivos do Canal de Schlemm:
    • Mecanismo: aprimoram o escoamento do humor aquoso através do canal de Schlemm, uma via de drenagem já existente. A malha trabecular justa-canalicular é a principal fonte de resistência ao escoamento nesta via. São inseridos por uma incisão corneana clara (abordagem ‘ab interno’) e geralmente visam a parte nasal da malha trabecular.
    • Exemplos:
      • iStent: o primeiro dispositivo de bypass trabecular aprovado pela FDA em 2012. Existem várias gerações, como o iStent Inject (menor, com quatro orifícios laterais para fluxo aquoso) e o iStent Infinite (com três stents pré-carregados).
      • Hydrus: uma endoprótese em forma de crescente que dilata e estrutura o canal de Schlemm ao longo de três horas de relógio.
      • Goniotomia: técnicas como GATT, Kahook Dual Blade (KDB), Trabectome, OMNI Surgical System, Streamline.
      • Visco-Dilatação do Canal de Schlemm: ABiC, TRAB360, OMNI Surgical System.

    Dispositivos Baseados no Espaço Supracoroidal:
    • Mecanismo: aprimoram a via uveo-escleral existente, que drena o humor aquoso para o espaço supracoroidal.
    • Exemplos:
      • CyPass Micro-Stent: foi retirado do mercado em 2018 devido a perda de células endoteliais.
      • iStent SUPRA: feito de polieterosulfona e titânio. Não comercializado.
      • Miniject: disponível na Europa e Austrália, avaliado pela FDA.

    Dispositivos MIGS Subconjuntivais (MIBS):
    • Mecanismo: criam uma via artificial para drenagem subconjuntival, geralmente requerendo antimetabólitos.
    • Exemplos:
      • XEN Gel Stent: tubo de 6 mm inserido ‘ab interno’.
      • Preserflo MicroShunt: tubo flexível de SIBS, inserido ‘ab externo’.
      • EX-PRESS: dispositivo metálico sob retalho escleral.

    Outras Técnicas MIGS:
    • Ablação a Laser (ECP): destrói processos ciliares para reduzir produção de humor aquoso.
    • Dispositivos Intracamerulares de Liberação de Medicamentos: como iDose TR e Durysta.

    Resultados Clínicos e Eficácia

    A eficácia dos dispositivos MIGS é avaliada em ensaios, geralmente combinados com cirurgia de catarata:
    • iStent: redução de PIO e medicamentos.
    • Hydrus: maior redução de PIO e menor progressão do campo visual.
    • Goniotomia: redução significativa de PIO em pacientes com pressões basais altas.
    • XEN Gel Stent: eficácia comparável à trabeculectomia, porém maior taxa de needling.
    • Preserflo: ligeiramente menos eficaz em PIO, mas com menos complicações e menor tempo cirúrgico.

    Em geral, a combinação de MIGS com cirurgia de catarata oferece benefício adicional em relação à cirurgia isolada.

    Segurança e Eventos Adversos

    A segurança da MIGS é considerada superior à cirurgia incisional:
    • Menos Eventos Que Ameaçam a Visão: frequência igual ou menor que grupos controle.
    • Complicações Comuns: incluem obstrução do stent, inflamação, hifema e encapsulamento do bleb.
    • Dispositivos Subconjuntivais: suscetíveis a complicações de bleb como fibrose e endoftalmite.

    Fatores na Seleção do Dispositivo

    A escolha do dispositivo depende de:
    • Fatores do Cirurgião: experiência e acesso ao dispositivo.
    • Fatores do Paciente: tipo de glaucoma, comorbidades, anormalidades de ângulo, acessibilidade e risco de sangramento.

    Limitações e Desafios Futuros da MIGS
    • Redução Modesta da PIO: menos eficaz para pressões-alvo muito baixas.
    • Lumens Pequenos: suscetíveis a obstruções.
    • Dados Limitados a Longo Prazo: vigilância contínua é essencial.
    • Dificuldade em Isolar o Efeito da MIGS: maioria dos estudos é combinada com catarata.
    • Viés de Patrocínio: muitos estudos são financiados pela indústria.
    • Custo Elevado: limita a adoção em países de baixa renda.
    • Heterogeneidade de Dados: falta padronização nos estudos e desfechos.

    Conclusão

    A MIGS representa uma revolução na cirurgia para glaucoma, oferecendo segurança, recuperação rápida e conservação da conjuntiva. É especialmente útil para pacientes que não requerem pressões extremamente baixas, mas desejam reduzir medicamentos com menor risco cirúrgico.

    Referência Bibliográfica:

    Jain, N., & Fan Gaskin, J. C. (2025). Minimally Invasive Glaucoma Surgery: Is It Here to Stay?. Clinical & experimental ophthalmology, 10.1111/ceo.14571. Advance online publication. https://doi.org/10.1111/ceo.14571

    📈🚀Highlights World Glaucoma Congress 2025

    O Congresso Mundial de Glaucoma de 2025 reuniu especialistas de todo o mundo para discutir avanços cirúrgicos, inovações tecnológicas e abordagens diagnósticas desafiadoras, com destaque para os casos complexos.

    Alta Miopia e Glaucoma: diagnóstico e abordagem em debate

    O manejo do glaucoma em pacientes com alta miopia foi um dos temas de destaque. Não houve consenso sobre a melhor abordagem cirúrgica – com defesas bem fundamentadas para o uso de iStent, Hydrus, Preserflo e trabeculectomia. A escolha deve considerar cuidadosamente o contexto clínico e os riscos anatômicos associados à alta miopia.

    Do ponto de vista diagnóstico, as distorções estruturais em olhos míopes desafiam a acurácia do OCT e do campo visual. A tecnologia ROTA (RNFL Optical Texture Analysis) foi apresentada como uma ferramenta promissora para diferenciar danos glaucomatosos reais de artefatos. Também se discutiu a necessidade de bancos de dados normativos específicos para esse perfil de pacientes.

    Tecnologias que ainda não chegaram ao Brasil

    O congresso apresentou uma série de dispositivos e técnicas inovadoras ainda indisponíveis no mercado brasileiro. Entre elas:

    • Aqualumen: alternativa menos invasiva à trabeculectomia tradicional
    • DSLT (Direct Selective Laser Trabeculoplasty): trabeculoplastia seletiva a laser com aplicação automatizada
    • Mininject, OMNI, SION, iTrack: novas opções dentro do arsenal MIGS
    • GONIO ready CL: lente de gonioscopia cirúrgica adesiva

    Catarata e Glaucoma: o valor da individualização

    A estabilidade refracional proporcionada pelos MIGS foi defendida como superior à das cirurgias filtrantes, especialmente em pacientes que exigem previsibilidade visual. Também foram discutidas contraindicações para o uso de lentes multifocais em glaucomatosos – com evidências de perda de até 2 dB de sensibilidade visual. Outros temas abordados:

    • Zonulopatia: sinais clínicos como facodonese e assimetria da câmara anterior devem ser valorizados
    • Catarata em olhos hipotônicos: uso de sutura compressiva como estratégia
    • Nanoftalmo: indicação de esclerotomia profilática quando AL < 18 mm

    Goniotomia segmentar ganha força

    A comparação entre goniotomia 360° e segmentar apontou vantagem para a segunda, com eficácia semelhante, menor risco de hifema e pico hipertensivo, além da preservação da malha trabecular para futuras intervenções. Destaque para a afirmação de que 120° de goniotomia são geralmente suficientes.

    Glaucoma de ângulo fechado: menos pode ser mais

    Dentre as estratégias cirúrgicas, destacaram-se:

    • FACO + goniossinequiálise para casos iniciais
    • FACO + goniotomia + goniossinequiálise para casos avançados
    • Iridotomia cirúrgica + goniotomia para pacientes sem catarata
    • FACO + goniotomia não inferior à FACO + TREC em GPAF avançado
    • AS-OCT como ferramenta complementar à gonioscopia

    Tanito: reutilizável, segmentar e eficiente

    O Dr. Masaki Tanito apresentou as três versões do microhook (Original, Shoji e T-hook). Sendo defendido como eficaz, custo-benefício, além de reutilizável. Em estudos comparativos associados com faco, mostrou redução pressórica superior ao iStent W e com menor custo por mmHg reduzido.

    Tubos: realidade crescente fora do Brasil

    Houve ampla discussão sobre o uso de tubos no exterior, com destaque para o tubo Paul, de menor calibre. Foram discutidas estratégias de implante em câmara anterior, sulco e pars plana, além de técnicas de recobrimento (inclusive com cápsula própria). Complicações como erosão e uso de mitomicina também foram abordadas.

    TREC continua relevante: atualizações e manejo de complicações

    A trabeculectomia foi bastante debatida, especialmente em casos avançados. As complicações mais frequentes e estratégias de reabordagem foram tema de sessões específicas, com destaque para o uso de sutura transconjuntival e o manejo de quadros de hipotonia precoce e superfiltração.

    Glaucoma neovascular: abordagem escalonada

    O glaucoma neovascular (GNV) foi tema de discussão, especialmente no contexto de casos refratários. Uma das estratégias abordadas incluiu:

    • Ciclofotocoagulação parcial como etapa inicial, com o objetivo de reduzir a inflamação e facilitar intervenções subsequentes
    • Posteriormente, indicação de implante de tubo como abordagem complementar
    • Discussão sobre o uso combinado de anti-VEGF e panfotocoagulação, com resultados superiores à panfotocoagulação isolada

    Outros destaques

    • DMEK resultou em menor pressão intraocular em comparação com DSAEK em pacientes com glaucoma
    • SLT em dose anual reduzida apresentado como tendência

    Conclusão

    O congresso reforçou que, diante da multiplicidade de apresentações clínicas, o tratamento do glaucoma precisa ser cada vez mais personalizado. A tendência global é de combinar segurança, estabilidade visual e preservação anatômica, com um olhar cuidadoso para novas tecnologias – desde que bem indicadas.

    Dr. Gustavo Carvalho Pavão
    ● Fellow do segundo ano de catarata e glaucoma – BOS

    Contato
    Políticas

    Oftalmo News • 2025 • Todos os direitos reservados.

  • Edicao4

    👁️ EDIÇÃO 4 – Julho 2025

    O Novo Perfil dos Pacientes com Catarata e o Impacto na Cirurgia

    Um estudo recente e bem completo, que analisou mais de 25 mil olhos de pacientes com catarata no sudoeste da China entre 2020 e 2023, trouxe à tona mudanças importantes nas características das pessoas e dos olhos que impactam diretamente a cirurgia de catarata e a escolha das lentes intraoculares. *As principais tendências que o estudo notou, e o que elas significam na prática, são:

    • Pessoas com catarata estão ficando mais jovens: A idade média dos pacientes com catarata está diminuindo. Na pesquisa de 2020 a 2023, a média de idade foi de cerca de 63,84 anos, enquanto em um estudo anterior (de 2011 a 2014) no mesmo hospital, a média era de 68,58 anos. Isso mostra que hoje em dia há uma busca maior por cirurgias que melhorem a visão e a qualidade de vida das pessoas.
    • Mais casos de alta miopia: A quantidade de pacientes com alta miopia cresceu. No total, quase 20% dos olhos estudados tinham essa característica. A porcentagem de olhos com comprimento axial maior que 26,5 milímetros subiu de 13,66% para 17,15% e a de olhos com mais de 28 milímetros foi de 9,29% para 11,28% se compararmos com o estudo anterior.
    • Mais pessoas que já fizeram cirurgia refrativa: A quantidade de pacientes com catarata que já tinham feito alguma cirurgia refrativa no passado cresceu bastante, indo de 1,31% em 2020 para 1,99% em 2023. Esses pacientes, por sinal, eram bem mais jovens (com uma média de idade de 52,18 anos) do que aqueles que nunca tinham feito (média de 64,04 anos). As cirurgias refrativas mais comuns entre eles LASIK (46,23%), seguida pelo PRK (31,60%) e pela ceratotomia radial (19,10%). Vale notar que alguns (2,30%) até fizeram duas cirurgias diferentes no mesmo olho.

    Na prática: O problema é que cirurgias refrativas alteram a ceratometria, e isso dificulta muito o cálculo do grau certo da lente intraocular. Por isso, é fundamental que as fórmulas sejam melhoradas para levar em conta essas cirurgias prévias.

  • Mudanças na biometria de quem já passou por cirurgia refrativa: Pacientes que fizeram cirurgia refrativa no passado têm características biométricas diferentes de quem não fez. A espessura central da córnea, por exemplo, era bem maior em quem fez ceratotomia radial, mas mais fina em quem fez PRK ou LASIK.
  • Mulheres são a maioria: Mais da metade dos pacientes com catarata eram mulheres (58,04%). E mais: as mulheres tinham uma chance bem maior de já ter feito cirurgia refrativa (67,97% delas, contra 57,87% dos homens sem histórico).
  • Astigmatismo: foram encontrados mais pacientes com astigmatismo acima de 0,75 dioptrias em quem já tinha feito cirurgia refrativa (60,14%) do que em quem não tinha (51,33%). A cirurgia refrativa pode mudar a curvatura da córnea e o jeito que o astigmatismo se distribui, aumentando a proporção de astigmatismo oblíquo e “contra a regra”, e diminuindo o “a favor da regra”. A ceratotomia radial, especialmente, é famosa por causar astigmatismo (tanto regular quanto irregular), e os pacientes que fizeram esse tipo de cirurgia tiveram um astigmatismo bem mais acentuado.
  • Na prática: Como o astigmatismo está cada vez mais comum, há uma necessidade de lentes intraoculares tóricas com uma gama maior de dioptrias.

Para resumir e aplicar na prática:

Os resultados do estudo deixam claro que os pacientes com catarata estão ficando mais jovens e têm mais chances de apresentar alta miopia e de já ter feito cirurgia refrativa. Por isso, oftalmologistas e fabricantes de lentes intraoculares precisam se atentar a essas mudanças nas características da população e dos olhos para que as cirurgias tenham os melhores resultados possíveis. Isso implica que precisamos de métodos mais exatos e confiáveis para calcular a dioptria da lente intraocular e, quem sabe, de lentes ainda melhores para corrigir alta miopia e astigmatismo. É essencial, também, modernizar a maneira como os pacientes são informados, tratados e como suas expectativas são alinhadas, principalmente os mais jovens que já fizeram cirurgia refrativa, pois eles geralmente esperam uma qualidade de visão muito alta e querem se livrar dos óculos.

Referência Bibliográfica:

Mu, J., Xu, F., Guo, W. et al. Updated study on demographic and ocular biometric characteristics of cataract patients indicates new trends in cataract surgery. Sci Rep 15, 17289 (2025). https://doi.org/10.1038/s41598-025-02311-5

Nanoemulsão de insulina no tratamento do olho seco em Sjögren

Na oftalmologia, a doença do olho seco representa um desafio clínico persistente, especialmente em condições sistêmicas como a síndrome de Sjögren. Caracterizada por uma diminuição acentuada na produção de lágrimas e um processo inflamatório na superfície ocular, essa condição frequentemente resiste a tratamentos convencionais, como as lágrimas artificiais, que, embora aliviem os sintomas, nem sempre abordam a causa subjacente da disfunção lacrimal. Essa lacuna terapêutica impulsiona a busca por abordagens inovadoras.

Uma linha de pesquisa promissora tem explorado o potencial da insulina aplicada topicamente. Surpreendentemente, receptores de insulina foram identificados na superfície ocular e na glândula lacrimal, e a própria insulina foi detectada nas lágrimas, sugerindo um papel homeostático crucial para essa molécula nesses tecidos. Estudos pré-clínicos e clínicos anteriores já haviam demonstrado efeitos cicatrizantes da insulina tópica em lesões corneanas. O desafio, no entanto, sempre foi a baixa biodisponibilidade desse componente na superfície ocular.

Para superar essa barreira, foi desenvolvida uma formulação de nanoemulsão, visando otimizar a penetração e retenção no tecido ocular. As nanoemulsões são sistemas de entrega versáteis que não apenas aumentam a estabilidade e a entrega de proteínas terapêuticas, mas também atuam como estabilizadores do filme lacrimal, restaurando sua camada lipídica, que frequentemente está comprometida na doença do olho seco. A estratégia da insulina nessa formulação é apoiada por suas propriedades pró-mitóticas, antioxidantes e anti-inflamatórias, e a aplicação local minimiza potenciais efeitos colaterais sistêmicos.

O artigo em foco relata os achados de um ensaio clínico randomizado de fase I/II, duplo cego e controlado, desenhado para avaliar a segurança e a eficácia de uma nanoemulsão de insulina (0,7 mg/mL ou 20 UI/mL) no tratamento do olho seco em pacientes com síndrome de Sjögren primária. Esta é a primeira investigação a explorar o uso de nanoemulsão de insulina tópica para a doença do olho seco especificamente nessa síndrome. A decisão de incluir apenas mulheres foi estratégica para homogeneizar a amostra, dada a complexidade multifatorial da doença do olho seco e a heterogeneidade das manifestações da síndrome de Sjögren.

Os pacientes foram orientados a aplicar uma gota em cada olho, três vezes ao dia, por 30 dias, mantendo seus lubrificantes habituais. A adesão ao protocolo foi rigorosamente monitorada pelo peso dos frascos.

Inicialmente, 32 pacientes foram randomizados, com 23 completando o estudo (10 no grupo da insulina e 13 no grupo do placebo).

Os resultados do estudo trouxeram insights importantes:
  • Perfil de Segurança Favorável: O achado mais consistente e encorajador foi a segurança da nanoemulsão de insulina a 20 UI/mL. Não foram relatados eventos adversos clinicamente relevantes, e não houve diferença estatisticamente significativa na pressão intraocular entre os grupos. O único efeito colateral que diferiu significativamente entre os grupos foi a visão embaçada, predominantemente no grupo da insulina. No entanto, este sintoma foi descrito como de intensidade leve e limitado ao período imediatamente após a aplicação das gotas.
  • Resultados de Eficácia Inconclusivos: Embora ambos os grupos tenham demonstrado melhora significativa nos sintomas e sinais objetivos (pontuações de coloração com Lissamina Verde) após o tratamento (p < 0.05), não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre o grupo da insulina e o grupo do placebo para a produção de lágrimas (teste de Schirmer I), coloração corneana com fluoresceína, coloração conjuntival com Lissamina Verde, ou tempo de ruptura do filme lacrimal.
  • Adesão ao Tratamento: Um aspecto digno de nota foi a adesão significativamente maior ao protocolo observada no grupo da insulina (70,0% de uso apropriado) em comparação com o grupo do placebo (15,38%). Essa disparidade na adesão, embora não diretamente relacionada à eficácia da insulina em si, destaca os desafios inerentes à pesquisa e ao tratamento do olho seco na prática clínica, onde a complacência do paciente é um fator crítico para o sucesso terapêutico.

Perspectivas e Próximos Passos na Pesquisa:

A ausência de uma diferença estatisticamente significativa entre os grupos, apesar de uma tendência positiva favorável à insulina, pode ser atribuída a diversos fatores. Os autores apontam a dificuldade em recrutar uma amostra maior, os rígidos critérios de diagnóstico, a variabilidade inerente aos testes de olho seco, o curto período de acompanhamento e, como mencionado, a baixa adesão ao tratamento, especialmente no grupo placebo. Adicionalmente, o potencial terapêutico intrínseco do veículo da nanoemulsão pode ter contribuído para a melhora observada também no grupo placebo, potencialmente mascarando o efeito específico da insulina.

É imperativo ressaltar que os resultados atuais não fornecem suporte para o uso generalizado e não regulamentado (off-label) da insulina ocular, uma prática que já foi observada em alguns países com doses e formulações variadas.

Para pesquisas futuras, os autores sugerem a necessidade de estudos com amostras maiores, períodos de acompanhamento mais extensos, ajustes de dose e a investigação em outros subtipos da doença do olho seco. A utilização de ferramentas mais sensíveis para avaliar as variações clínicas na superfície ocular e no filme lacrimal também será fundamental para desvendar o potencial terapêutico completo desta abordagem.

Em suma, este estudo representa um passo importante no caminho da inovação para o tratamento da doença do olho seco na síndrome de Sjögren. Embora a segurança da nanoemulsão de insulina tenha sido bem estabelecida, a sua eficácia superior ao placebo ainda requer mais investigação.

Referência Bibliográfica:

MARZOLA, M. M. et al. Insulin Nanoemulsion Eye Drops for the Treatment of Dry Eye Disease in Sjögren’s Disease: A Randomized Clinical Trial Phase I/II. Vision, v. 9, n. 3, p. 54, set. 2025.

💡A jornada da aprovação no fellowship de Retina cirúrgica no Canadá

Desde que decidi tentar, no final do R2, a ideia de conseguir uma vaga de fellowship no exterior (mais especificamente no Canadá) parecia uma realidade quase que inalcançável. Ainda assim, decidi tentar por ser uma oportunidade pessoal e profissional única.

Comecei a me preparar para esse processo seletivo no início do ano de 2024. Conversei com ex-fellows que já tinham passado por isso, pedi dicas e fui em busca de tudo que precisava. Fiz um estágio para conhecer um dos serviços e entender como tudo funcionava por lá. Quando voltei ao Brasil, tinha a certeza clara de que o fellow no Canadá era mesmo o que eu queria – mesmo que para mim parecesse improvável, afinal, eu iria concorrer com pessoas do mundo todo.

Era ano de R3 e quem já vivenciou sabe: períodos de estresse, rotina corrida, cirurgias desafiadoras, além da preparação para as provas do CBO e as do fellowship daqui do Brasil que se aproximavam.

Em outubro, recebi a mais inesperada notícia… tinha conseguido entrevistas. Em meio à rotina de R3, dividi meu foco para aulas de francês e cursos para me preparar para as entrevistas. Quase não sobrava tempo. (quantas vezes imaginei como seriam as entrevistas e ensaiei em frente ao espelho).

Enfim, fui novamente ao Canadá para realizar as entrevistas. Inclusive, uma delas foi uma semana antes da prova de fellow no BOS (o fellowship que eu mais queria passar aqui do Brasil). Estar lá de novo, conhecer pessoas de outros países, sentir o frio na barriga das entrevistas em outras línguas e viver toda essa experiência foi algo muito positivo.

Quando recebi a aprovação – “Vitreoretinal Diseases and Surgery Fellowship 2025 na Universidade McGill” em Montreal – quase não acreditei. Foram meses cheios de altos e baixos, provas de resistência que testaram meu limite. Não foi nada fácil. Mas aquela sensação de que tudo valeu a pena, de ter alcançado o que eu queria… é realmente única!

Se eu pudesse dar um conselho para quem deseja tentar, diria: aperfeiçoe o idioma (inglês ou francês) – faz toda a diferença; tente conhecer o serviço e conversar com quem já passou por isso antes, para ver se realmente é o que você quer; e por último: dedique-se ao máximo e acredite no processo.

Inicio o fellow agora em setembro. Vamos ver como vai ser essa nova fase. Logo posso compartilhar mais das minhas experiências e como é fazer um fellowship no exterior.

Dra. Beatriz Gubert Deud
● Oftalmologista pelo BOS
● Fellow de Retina Cirúrgica na Universidade McGill

Contato
Políticas

Oftalmo News • 2025 • Todos os direitos reservados.

  • Edicao3

    👁️ EDIÇÃO 3 – Julho 2025

    🤖 Nova Tecnologia pode Revolucionar o Diagnóstico Precoce do Glaucoma

    O glaucoma é uma das principais causas de cegueira irreversível. Muitos pacientes com glaucoma são assintomáticos nos estágios iniciais, o que frequentemente leva ao diagnóstico em fases avançadas da doença, quando o dano ao nervo óptico já é irreparável. Isso ressalta a urgência de estratégias que auxiliem no diagnóstico precoce.

    Atualmente, o diagnóstico é feito com o auxílio de avaliações estruturais e funcionais do nervo óptico. Alterações estruturais no nervo óptico, como o afinamento da camada de fibras nervosas e o arqueamento posterior da lâmina crivosa, são sinais cruciais de dano glaucomatoso.

    O Que É RETFound?

    Várias técnicas que utilizam inteligência artificial (IA) para o diagnóstico precoce do glaucoma a partir de fotografias de fundo de olho estão atualmente em desenvolvimento. A maioria desses modelos é treinada para realizar uma única tarefa, como identificar a relação cup-to-disc ou a espessura da camada de fibras nervosas da retina. Esses métodos geralmente exigem grandes conjuntos de dados de treinamento, o que demanda tempo e custos significativos.

    Para superar essas limitações, a aprendizagem auto-supervisionada (self-supervised learning) oferece uma abordagem poderosa, utilizando vastas quantidades de dados não rotulados para pré-treinar modelos. Essa fase inicial de aprendizado permite que o modelo capture ricas representações de características. Posteriormente, o modelo pode ser ajustado (fine-tuned) em conjuntos de dados menores e rotulados para tarefas específicas ou, como neste estudo, o modelo auto-supervisionado pré-treinado pode ser empregado como um extrator de características, melhorando o desempenho em tarefas onde os dados rotulados são escassos. Essa abordagem maximiza a utilidade dos dados disponíveis e melhora a adaptabilidade do modelo em diferentes aplicações.

    O RETFound é um modelo recém-lançado para imagens retinianas. Ele utilizou aprendizagem auto-supervisionada, sendo pré-treinado com 1,6 milhão de imagens de OCT e fotografias de fundo de olho não rotuladas do Moorfields Eye Hospital e University College London. O impacto potencial do RETFound reside na sua capacidade de ser ajustado (fine-tuned) ou usado como um extrator de características para uma ampla variedade de tarefas de regressão ou classificação downstream, como espessura da camada de fibras nervosas, retinopatia diabética e glaucoma. Embora o desempenho do RETFound já tenha sido validado em vários conjuntos de dados públicos existentes para diversas tarefas de avaliação de doenças, ainda há uma necessidade de avaliar seu desempenho em conjuntos de dados clínicos independentes e em diversas tarefas downstream para avaliar sua generalização.

    O Estudo: Avaliando o RETFound em um Cenário Clínico Real

    O objetivo deste estudo foi aproveitar o modelo RETFound pré-treinado para extrair características de fotografias de fundo de olho e realizar uma variedade de tarefas de avaliação do nervo óptico. O estudo avaliou o RETFound em um conjunto de dados clínicos independente e em tarefas relacionadas ao glaucoma para as quais ele não havia sido originalmente treinado: prever a relação cup-to-disc e a espessura da camada de fibras nervosas a partir de fotos de fundo de olho.

    Como foi feito?

    • Desenho: Foi um estudo observacional retrospectivo.
    • Participantes: Pacientes do Byers Eye Institute, Stanford University, que realizaram fotografia de fundo de olho e OCT da camada de fibras nervosas. As datas dos exames foram pareadas, com um intervalo máximo de 6 meses entre si. O estudo incluiu 776 pares de dados, pertencentes a 463 pacientes. A idade média dos pacientes foi de 63 anos (±18 anos), e 57,24% (N=265) eram do sexo feminino. A maioria das imagens de fundo de olho foi capturada pela mesma máquina (Carl Zeiss Meditec FF450 plus), e os OCTs da canada de fibras nervosas por máquinas Zeiss Cirrus 5000.
    • Metodologia: As imagens de fundo de olho foram processadas através do RETFound. As características extraídas, que consistem em um conjunto de 128 características, foram então usadas como entradas para vários modelos de regressão linear: Ordinary Least Squares (OLS), Ridge, Lasso e Elastic Net.
    • Tarefas: Os modelos foram treinados para realizar quatro tarefas em fotos de fundo de olho:
      • (1) identificação da relação cup-to-disc.
      • (2) previsão da espessura média da camada de fibras nervosas
      • (3) previsão da espessura da camada de fibras nervosas por quadrante (temporal, nasal, superior e inferior),
      • (4) previsão da espessura da RNFL por hora do relógio (para cada uma das 12 horas).

    As Vantagens Inovadoras do RETFound

    Este estudo demonstra que usar um modelo de pré-treinado como extrator de características oferece vantagens cruciais, especialmente em ambientes clínicos:

    • Superação de Limitações de Dados Pequenos: O estudo alcançou alto desempenho apesar de um conjunto de dados relativamente pequeno (776 pares de OCT). Isso contrasta com modelos anteriores que exigiam conjuntos de imagens muito maiores; por exemplo, um estudo anterior para estimar CDR usou 181.768 imagens.
    • Redução de Custos e Recursos: Ao utilizar o RETFound pré-treinado, há uma redução significativa na necessidade de curadoria e rotulagem de grandes conjuntos de dados dedicados, além de diminuir o tempo computacional e os recursos necessários, pois os pesos do modelo RETFound são congelados. Essas vantagens podem reduzir as barreiras para o desenvolvimento e a adoção de sistemas de inteligência artificial em ambientes de saúde ou com recursos limitados.
    • Melhora na Generalização: Ao aproveitar as representações ricas e pré-treinadas de um modelo de fundação, a abordagem pode minimizar o risco de overfitting e potencialmente aprimorar a capacidade de generalização.

    Desafios e Próximos Passos

    Apesar do sucesso, o estudo destaca algumas limitações importantes e áreas para futuras pesquisas:

    • Desempenho Estratificado por Raça/Etnia: Os modelos demonstraram melhor desempenho em subpopulações de não-Hispânicos Brancos e Asiáticos para todas as tarefas. Isso pode ser atribuído à distribuição demográfica da coorte estudada, onde esses dois grupos são os mais representados. Diferenças na morfologia ocular entre diferentes grupos demográficos também podem levar a disparidades no desempenho do modelo. Além disso, havia relativamente poucos pacientes de outros subgrupos demográficos (por exemplo, pacientes negros) na coorte, e o desempenho do modelo nesses subgrupos não foi tão forte, embora os resultados possam ser diferentes se avaliados em grupos maiores de pacientes. Pode ser que as características extraídas do RETFound também contenham vieses, já que mais de 90% das imagens de fundo de olho usadas para treinar o modelo RETFound são do Moorfields Eye Hospital, cujas demografias provavelmente refletem as do Reino Unido e teriam uma minoria de pacientes negros e hispânicos. A própria utilização de modelos com fine-tuning ou o treinamento em características extraídas de modelos pré-treinados tem sido associada a resultados injustos. Há uma necessidade urgente de analisar melhor a equidade dos modelos de fundação em tarefas downstream e investigar técnicas de mitigação de viés para garantir a previsão justa de resultados.
    • Dados de Um Único Centro Acadêmico: A validação se baseou em dados de um único centro acadêmico, o que significa que os resultados podem diferir em outros locais.
    • Viés da Coorte de Pacientes: As imagens de fundo de olho e os exames OCT utilizados neste estudo provêm de pacientes encaminhados por alguma preocupação oftalmológica; assim, pacientes com patologia ou suspeita de patologia estão super-representados em comparação com pacientes normais. A adequação de tais modelos para o rastreamento de pacientes assintomáticos requer avaliação adicional.
    • Homogeneidade dos Equipamentos de Imagem: A maioria das imagens de fundo de olho foi capturada usando a mesma máquina. Isso pode limitar a generalização do modelo para imagens de outros dispositivos, uma vez que diferentes máquinas OCT podem ter segmentações distintas que afetam as medições. É necessária uma análise futura para validar o modelo em imagens de fundo de olho geradas em uma ampla variedade de máquinas.
    • Correspondência Temporal das Imagens: Embora as imagens de fundo de olho e os parâmetros da RNFL tenham sido combinados dentro de um período de 6 meses, essa abordagem não considera possíveis mudanças nas condições da retina ou variações nas medições da RNFL que podem ocorrer nesse período.
    • Necessidade de Explicabilidade: Para construir confiança clínica, é fundamental explorar a explicabilidade do modelo de fundação em tarefas downstream

    Conclusão: Um Futuro Brilhante para a Oftalmologia

    Este estudo é um marco importante. Os médicos podem potencialmente implementar essas ferramentas poderosas com mínima expertise técnica, menos dados e menos tempo. Embora o desempenho possa variar significativamente entre diferentes subpopulações, e mais trabalho seja necessário para empregar técnicas de mitigação de viés e explorar a explicabilidade, esta pesquisa aponta para um futuro promissor para a IA na oftalmologia, tornando o diagnóstico precoce do glaucoma mais acessível e eficiente.

    Referência Bibliográfica:

    CHEN, Maggie S.; RAVINDRANATH, Rohan; CHANG, Raymond, et al. Independent Evaluation of RETFound Foundation Model’s Performance on Optic Nerve Analysis Using Fundus Photography. Ophthalmology Science, [S. l.], v. 5, n. 3, p. 100720, 2025. DOI: 10.1016/j.xops.2025.100720.

    🤲 Psoríase e seus Impactos Oculares

    Uma revisão sistemática e meta-análise inovadora lança luz sobre as conexões frequentemente subestimadas entre a psoríase e a saúde ocular, destacando a urgência da avaliação oftalmológica para pacientes com esta condição dermatológica crônica. O estudo, liderado por Faneli et al. e publicado no Journal of Ophthalmic Inflammation and Infection, oferece uma perspectiva abrangente sobre as manifestações oculares nesta população.

    A psoríase, uma doença inflamatória crônica e sistêmica impulsionada pela atividade de células T e pela diferenciação anormal de queratinócitos, afeta entre 1% e 3% da população mundial. Embora sua patogênese completa ainda esteja em estudo, sabe-se que envolve a ativação de células T e o aumento de citocinas pró-inflamatórias, como o TNF-alfa. Para além das manifestações cutâneas, a psoríase está intrinsecamente ligada a diversas comorbidades não cutâneas, incluindo depressão, artrite, uveíte e doenças cardiovasculares. A prevalência média de sintomas oculares em pacientes com psoríase ronda os 10%, impactando várias estruturas do olho, como córnea, cristalino e pálpebra.

    Metodologia:

    Este estudo baseou-se numa busca da literatura em importantes bases de dados como PubMed, Embase, Cochrane e Web of Science. A análise incluiu 30 estudos, que agregaram um impressionante total de 131.687 pacientes, dos quais 13.788 tinham diagnóstico de psoríase e 117.899 eram controles.

    Descobertas Chave:

    Os resultados desta meta-análise são cruciais para a prática oftalmológica e dermatológica:

    Risco Ocular Aumentado em Pacientes com Psoríase (Comparado a Controles): Pacientes com psoríase demonstraram uma probabilidade significativamente maior de desenvolver as seguintes condições oculares:

    • Hiperemia conjuntival: 7,38 vezes maior (OR = 7,38; IC 95%: 2,47–22,04)
    • Conjuntivite: 4,63 vezes maior (OR = 4,63; IC 95%: 1,42–15,08)
    • Olho seco: 3,47 vezes maior (OR = 3,47; IC 95%: 2,06–5,83)
    • Disfunção da glândula meibomiana (DGM): 7,13 vezes maior (OR = 7,13; IC 95%: 2,14–23,72)

    Essa elevação no risco é explicada pela bem documentada associação entre a fisiopatologia da psoríase e o mau funcionamento do filme lacrimal, bem como a disfunção da glândula meibomiana. Pacientes com psoríase frequentemente apresentam um tempo de ruptura do filme lacrimal significativamente mais rápido, uma maior taxa de células epiteliais em metaplasia e hiperosmolaridade lacrimal, fatores que contribuem para a disfunção do filme lacrimal e a disfunção qualitativa das glândulas meibomianas.

    Prevalência de Doenças Oculares em Pacientes Psoriáticos com Uveíte:

    A análise de braço único revelou que a presença de uveíte teve um impacto substancial na prevalência de outras condições oculares em pacientes com psoríase:

    • Catarata
    • Baixa acuidade visual
    • Edema macular
    • Descolamento de retina
    • Triquíase
    • Vitrite

    Uveíte (em pacientes com histórico de uveíte)

    Uveíte demonstrou ser um fator protetor (diminuição da prevalência) contra:

    • Blefarite
    • Olho seco
    • Não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos com e sem uveíte para opacidade da córnea, pressão intraocular elevada, episclerite e retinopatia.

    Implicações para a Prática Oftalmológica:

    Este estudo robustece a necessidade premente de que os oftalmologistas estejam vigilantes e proativos na identificação de manifestações oculares em pacientes com psoríase. Embora certas condições, como a uveíte, possam não apresentar um risco significativamente elevado em comparação com a população geral, a sua ocorrência em pacientes psoriáticos pode sinalizar um curso mais agressivo da doença e uma maior propensão a outras complicações oculares severas.

    As descobertas orientam a prática clínica para:

    • Realizar triagem e avaliação oftalmológica proativa para hiperemia conjuntival, conjuntivite, olho seco e disfunção da glândula meibomiana em todos os pacientes com psoríase.
    • Considerar o histórico ou a presença de uveíte como um fator crítico na avaliação do risco de outras comorbidades oculares em pacientes psoriáticos.
    • Desenvolver e implementar estratégias de manejo personalizadas e direcionadas para estas condições, com o objetivo de otimizar a qualidade de vida e preservar a acuidade visual desses indivíduos.

    Limitações e Caminhos Futuros

    Os autores reconhecem que o estudo possui limitações, como a heterogeneidade em alguns resultados, a possibilidade de viés de publicação e a dependência de dados agregados, o que pode impactar a generalização dos achados. No entanto, sublinham que esta meta-análise oferece informações valiosas e ressalta a necessidade de pesquisas futuras sobre as manifestações oftalmológicas da psoríase. É particularmente importante que estudos futuros classifiquem os pacientes pela gravidade da psoríase, o que permitiria um entendimento mais aprofundado dos mecanismos subjacentes e o desenvolvimento de estratégias de manejo ainda mais eficazes.

    Em síntese, este estudo reafirma que a psoríase transcende a pele; suas ramificações oculares são consideráveis e demandam uma atenção especializada contínua.

    Referência Bibliográfica:

    Faneli AC, Amaral DC, Menezes IR, et al. Ocular complications in psoriatic patients: a systematic review and meta-analysis. J Ophthalmic Inflamm Infect. 2025;15(1):29. Published 2025 Mar 17. doi:10.1186/s12348-025-00486-6

    💡Dr. Thiago Barbosa fala sobre empreendedorismo na oftalmologia

    O empreendedorismo na Oftalmologia permite desenvolver sua carreira médica, buscando mais valor, qualidade de vida, prosperidade e autonomia. O caminho empreendedor na oftalmologia oferece um vasto potencial para transformar sua prática em um negócio próspero.

    Empreender na oftalmologia transcende a simples abertura de um consultório; trata-se de construir um patrimônio e assegurar controle sobre seu futuro. Ter sua própria clínica permite a implementação do seu método de trabalho e a liberdade de gerenciar seu tempo, possibilitando maior dedicação a atividades pessoais e familiares. Além disso, oferece controle sobre a qualidade do atendimento, evitando longas esperas e agendas desorganizadas para os pacientes.

    Ao investir em algo que é seu, você não apenas gera renda pelo seu trabalho, mas também constrói o valor da sua empresa, que é conhecido, no meio, como equity. Esse valor pode, inclusive, ser monetizado pela venda do negócio a um fundo de investimento, antecipando lucros futuros, como vem acontecendo nos últimos 10 anos no Brasil com o advento da consolidação de mercado, onde os maiores exemplos são o grupo Opty e Vision One.

    A oftalmologia é um campo com alta margem de lucro e grande valor agregado, visto que a visão é um sentido altamente valorizado. A barreira de entrada para novos negócios é significativa devido à necessidade de equipamentos específicos, o que favorece players já estabelecidos. O público é vasto e frequente, abrangendo desde recém-nascidos até idosos.

    Adicionalmente, a verticalização do cuidado (consulta, exames e cirurgias no mesmo local) otimiza a receita por paciente. O Brasil, em particular, apresenta um grande número de pessoas afetadas pela perda de visão e um envelhecimento populacional que demanda mais serviços oftalmológicos. Apesar da concentração de oftalmologistas em algumas regiões, ainda há espaço e muitas oportunidades de crescimento, mesmo em capitais e municípios com boa população que não possuem sequer um oftalmologista.

    A Mentalidade Empreendedora: Pilares para o Sucesso

    Para ser um empreendedor bem-sucedido na oftalmologia, é crucial desenvolver e cultivar uma mentalidade específica, que inclui os seguintes pilares:

    • Proatividade e Visão de Longo Prazo: O sucesso empreendedor não é instantâneo. É fundamental ter uma visão de longo prazo e entender que você está construindo um patrimônio duradouro.
    • Resiliência: O caminho será marcado por altos e baixos. Manter-se firme, sem euforia nos bons momentos ou desânimo nos desafios, é essencial.
    • Criatividade: O empreendedorismo é a arte de resolver problemas. A criatividade permite abordagens inovadoras e diferenciadas no mercado.
    • Networking: Construir e manter boas relações com colegas oftalmologistas e profissionais de outras especialidades (como reumatologia) é vital para o crescimento e para as indicações.
    • Educação Contínua: Além da constante atualização médica, é imprescindível investir em conhecimento de negócios.
    • Mentoria: É importante contar com mentores que já trilharam o caminho desejado pode acelerar sua jornada rumo ao sucesso.

    Lembre-se: Só o trabalho depois do trabalho enriquece. Dedicar tempo ao seu negócio fora do expediente é o que, de fato, constrói riqueza.

    A Jornada Empreendedora: Fases e Aspectos Essenciais

    O processo de estruturação e crescimento de uma clínica oftalmológica pode ser dividido em etapas estratégicas, que visam levar um negócio do zero à prática ideal.

    Definição e Análise do Mercado: É importante que se inicie com uma pesquisa de mercado aprofundada, analisando a demanda populacional na região, identificando concorrentes, suas práticas e o que podem ser oportunidades. É crucial entender a demografia (renda, idade) e as tendências de mercado do público-alvo. Ferramentas como a análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats) e PESTEL (Political, Economic, Sociocultural, Technological, Environmental, Legal) podem ser úteis para esta análise.

    Plano de Negócios e Viabilidade: Necessário criar um plano de negócios detalhado que descreva os objetivos, estratégias e passos para alcançá-los. Ele deve incluir a visão, missão, valores e cultura da sua empresa, além de um estudo de viabilidade para determinar a real potencialidade do negócio. Analisar os custos iniciais, projetar receitas e despesas, e determinar o ponto de equilíbrio (break-even point) para entender o volume de atendimentos necessário para cobrir os custos são tarefas essenciais.

    Escolha da Marca e Localização: A escolha do nome da clínica deve ser estratégica, considerando se utilizará nome próprio, a especialidade, ou uma subespecialidade (ex: “Cornea Clinic”) para construir autoridade. O registro da marca no INPI é crucial para evitar problemas futuros. A localização da clínica deve dialogar diretamente com o seu público-alvo, considerando acessibilidade, demografia da região e a vizinhança (proximidade de hospitais, farmácias, óticas).

    Tipos de Sociedade: É importante entender os tipos de sociedade (limitada, unipessoal, anônima, simples uniprofissional) e de porte de empresa (MEI, Microempresa, EPP) para definir a estrutura legal do negócio.

    Registros e Licenças: Essencial seguir o passo a passo burocrático para a abertura, incluindo protocolo na Junta Comercial e Receita Federal (CNPJ), obtenção de alvará de funcionamento municipal, cadastro no CRM (Pessoa Jurídica), e, fundamentalmente, o alvará da vigilância sanitária e a licença do Corpo de Bombeiros. A Anvisa (RDC50) possui normas rigorosas para espaços de saúde que devem ser seguidas para evitar retrabalhos e custos adicionais.

    Contratação de Prestadores de Serviço: Avalie quais serviços devem ser internalizados (secretárias, técnicos de exames, médicos) e quais podem ser terceirizados (contabilidade, jurídico, TI, manutenção, social media, gestão de tráfego, diarista). É essencial que o contador tenha conhecimento da área médica e foco na redução de impostos.

    Obras e Ambiente Clínico: A arquitetura da clínica deve dialogar com o público-alvo e otimizar o fluxo de pacientes e funcionários. Pense na funcionalidade do espaço, posicionamento dos equipamentos, acessibilidade e, especialmente, nos requisitos da vigilância sanitária. A ambientação, iluminação (preferencialmente cores quentes para acolhimento), paleta de cores e decoração devem reforçar a identidade da marca e dialogar com o paciente, evitando percepções erradas de preço. O isolamento acústico é vital para a privacidade.

    Gestão administrativa: Aprenda a delegar tarefas (sem “delargar”), acompanhando e revisando, mas sem microgerenciar, o que demonstra falta de confiança. É mais eficaz treinar sua equipe para que ela possa desempenhar tarefas de forma independente.

    Treinamento: Invista em treinar sua própria secretária e equipe, pois você é a melhor pessoa para transmitir sua visão e método de trabalho. Cursos genéricos para secretárias geralmente não são eficazes.
    Técnicas de Venda: Utilize técnicas de venda ativas. É fundamental diferenciar preço de valor. A ancoragem e o SPIN Selling (perguntas de Situação, Problema, Implicação e Necessidade) são ferramentas poderosas para conduzir a conversa de venda.

    Remuneração: Considere formas de remuneração para a equipe comercial que incentivem o desempenho, como salários base, gratificações, comissões (para vendedores) e prêmios, sempre observando a legislação.

    Procedimentos Operacionais Padrão (POPs): Crie POPs detalhados para todas as atividades da clínica, desde o primeiro contato do paciente até o fechamento de caixa. Isso reduz erros, aumenta a produtividade e torna a clínica menos refém de funcionários. Os POPs devem ser monitorados, otimizados e revisados periodicamente.

    Tecnologia e Softwares: Utilize softwares de gestão que ofereçam dashboards com KPIs (Key Performance Indicators), sistema financeiro integrado, CRM (Customer Relationship Management) e agenda/prontuário eficientes.

    Precificação: O preço do seu serviço baliza a percepção de valor. Para precificar, considere custos fixos e variáveis, margem de lucro esperada, concorrência e o valor percebido pelo seu público. Não busque ser o mais barato, pois isso pode ser associado à baixa qualidade.

    Jornada do Paciente Completa: Otimize a jornada do paciente para reduzir fricções em cada ponto de contato: desde a aquisição (conhecimento da clínica), passando pela pré-consulta (primeiro contato, tirar dúvidas, agendamento e lembretes), a consulta (conexão, qualificação, demonstração do serviço, fechamento), até o pós-atendimento (acompanhamento, pesquisa de satisfação, lembretes de reativação). O ideal é oferecer o máximo de serviços dentro da própria clínica para diminuir deslocamentos e burocracias para o paciente (ex: exames complementares, cirurgia, ótica parceira).

    O empreendedorismo é para todos

    Acima, revisamos alguns dos muitos tópicos que o oftalmologista que deseja empreender precisa saber, muitos outros ficaram de fora para não tornar esse texto extenso demais.

    Concluindo, o empreendedorismo é sim para todos, sem exceções, no entanto, poucos são àqueles que realmente têm as habilidades necessárias para serem bem-sucedidos nessa área.

    Alguns oftalmologistas preferirão sempre trabalhar para terceiros e não há qualquer problema nisso. Empreender tem íntima relação com risco, uns aceitarão tomar o risco e outros não, é assim em qualquer área da vida humana.

    Se você é um dos que desejam correr o risco, a nossa escola de negócios em oftalmologia, Oftalmo Business, pode ser uma grande aliada.

    Desejo sucesso a todos e vida longa ao Oftalmo News.

    Thiago Barbosa Gonçalves

    Fundador do Oftalmo Business

    Dr. Thiago Barbosa Gonçalves
    ● Oftalmologista
    ● Fundador da OftalmoBusiness (@oftalmo.business)

    CALEC: A Nova Fronteira no Tratamento da Insuficiência Limbar?

    Esse estudo traz os resultados de um ensaio clínico de fase I e II sobre o transplante de limbo pela técnica CALEC – cultivated autologous limbal epithelial cell –, para tratar insuficiência limbar (IL).

    A insuficiência limbar (IL) é uma condição ocular grave caracterizada pela perda da capacidade regenerativa das células-tronco epiteliais límbicas, resultando em conjuntivalização da superfície corneana, neovascularização, inflamação, cicatrizes e opacidade, que levam à diminuição da visão e a sintomas debilitantes.

    O tratamento da IL visa restabelecer uma superfície ocular saudável, e o CALEC é uma técnica derivada do transplante de epitélio límbico cultivado (CLET), desenvolvida nos Estados Unidos, que se distingue por ser o primeiro protocolo xenobiótico-livre, soro-livre e antibiótico-livre.

    Os transplantes autólogos (do próprio paciente) são preferíveis aos aloenxertos (de doadores) devido às maiores taxas de sucesso e menor risco de complicações, além de não exigirem imunossupressão sistêmica vitalícia.

    Por se tratar de um estudo de fase I e II, o objetivo foi demonstrar a viabilidade e a segurança do protocolo de fabricação do CALEC, além de investigar a eficácia do CALEC com base na melhoria da integridade da superfície epitelial da córnea (sucesso completo) ou na melhoria da vascularização corneana e/ou sintomas do participante (sucesso parcial).

    Tratou-se de um ensaio clínico de fase I/II, de braço único e centro único. Um total de 15 participantes foram incluídos no estudo e fizeram uma biópsia para CALEC e, desses, 14 participantes receberam um transplante de CALEC. Os participantes tinham entre 18 e 90 anos, com IL unilateral, e a mediana de idade foi de 42 anos. A causa mais comum de IL foi queimadura química (64%).

    O processo de fabricação é dividido em duas etapas, utilizando uma biópsia do limbo do olho não afetado do paciente. Na primeira etapa, as células são cultivadas e, na etapa 2, são transferidas para uma membrana amniótica desepitelizada para expansão. O procedimento de fabricação utiliza apenas materiais compatíveis com a FDA, sem células alimentadoras alogênicas ou xenogênicas. A manufatura do CALEC obteve uma taxa de sucesso de 93% (14 de 15 participantes) no atendimento aos critérios de liberação, e o tempo médio da biópsia à colheita final (produto CALEC) variou de 13 a 27 dias, com contagens de células finais satisfatórias.

    Essa fase do estudo não apresentou nenhum evento adverso grave relacionado ao tratamento nos olhos doadores ou receptores. Apenas um evento de segurança primário ocorreu em um olho receptor: uma infecção bacteriana (Cutibacterium acnes) oito meses após o transplante, atribuída ao uso crônico de lentes de contato. Houve sete casos de sangramento corneano transitório sob o enxerto, que se resolveram no pós-operatório inicial. A biópsia do limbo do olho doador foi bem tolerada, sem IL iatrogênica ou outras sequelas graves.

    Os resultados foram animadores: 86% dos enxertos resultaram em sucesso completo ou parcial em três meses, e as taxas de sucesso aumentaram para 93% em 12 meses e 92% em 18 meses. O sucesso completo (restauração da integridade da superfície corneana) foi de 77% aos 18 meses. Todos os participantes alcançaram sucesso completo em pelo menos uma das visitas do protocolo. Os participantes com sucesso completo precoce tendiam a ter menos opacificação corneana, menor duração da doença, menos cirurgias reconstrutivas pré-transplante, menor tempo da biópsia ao fim da cultura e valores mais altos de iATP e CFE (indicadores de potencial proliferativo).

    Foi observado, em análises exploratórias, que a eficiência de formação de colônias (CFE) e a razão de adenosina trifosfato intracelular (iATP) correlacionaram-se com o tempo da biópsia à colheita. Células CALEC expressaram predominantemente marcadores epiteliais (CD49F e CD340) e baixos níveis de marcadores hematopoéticos/endoteliais (CD45/CD31) e mieloides/mesenquimais (CD13). A positividade para p63 não se correlacionou com os resultados de eficácia neste estudo, sugerindo que o sucesso clínico depende mais de fatores do microambiente do receptor.

    Um fator que limita os achados do estudo é a distribuição desproporcional de sexo (apenas uma mulher e 13 homens), refletindo a maior incidência de lesões oculares em homens em ambientes de trabalho. O estudo não foi randomizado, e um braço de controle com CLAU (autoenxerto conjuntival límbico) foi descontinuado devido à baixa adesão. O produto final do CALEC não é criopreservado e deve ser transplantado cirurgicamente em até 24 horas após a conclusão do processo de fabricação, o que limita sua aplicação clínica.

    Como conclusão, o estudo fornece forte suporte de que o transplante de CALEC é seguro e viável e restaurou a superfície corneana em pacientes com IL, tanto leves quanto graves. Melhorias significativas na integridade da superfície corneana, neovascularização e sintomatologia foram observadas. São necessários estudos futuros maiores e randomizados para avaliar a eficácia terapêutica e otimizar os protocolos de tratamento. É também crucial desenvolver métodos para criopreservação do enxerto CALEC e explorar a cultura de células-tronco epiteliais alogênicas para permitir a produção em larga escala.

    Referência Bibliográfica:

    Jurkunas UV, Kaufman AR, Yin J, et al. Cultivated autologous limbal epithelial cell (CALEC) transplantation for limbal tem cell deficiency: a phase I/II clinical trial of the first xenobiotic-free, serum-free, antibiotic-free manufacturing protocol developed in the US. Nat Commun. 2025;16(1):1607. Published 2025 Mar 4. doi:10.1038/s41467-025-56461-1

    Contato
    Políticas

    Oftalmo News • 2025 • Todos os direitos reservados.

  • Edicao2

    👁️ EDIÇÃO 2 – Junho 2025

    💉 Eficácia da enoxaparina na prevenção da formação de fibrina intraoperatória durante DMEK

    Este estudo, realizado em Madrid – Espanha, teve como objetivo demonstrar que a enoxaparina na solução salina de irrigação (BSS) pode prevenir a formação de fibrina intraoperatória (IFF) durante a cirurgia de Descemet Membrane Endothelial Keratoplasty (DMEK). Além disso, era importante avaliar se essa prática não comprometeria a viabilidade do enxerto, a recuperação visual e a segurança cirúrgica.

    O DMEK é uma cirurgia eletiva para descompensação endotelial da córnea, oferecendo recuperação visual superior e maior sobrevida do enxerto quando comparada com técnicas mais antigas, como a ceratoplastia penetrante.

    A IFF (formação de fibrina intraoperatória) é uma complicação imprevisível e grave, ocorrendo em 4,2–7,1% das cirurgias de DMEK, e está relacionada à falha precoce do transplante. Dificulta a abertura e o posicionamento do enxerto, podendo exigir um novo transplante em até **80% dos casos**.

    O estudo consistiu em um modelo “antes e depois” (before-and-after study), comparando uma coorte prospectiva (tratada com enoxaparina) com uma coorte retrospectiva (sem tratamento). A amostra total foi de 265 casos de DMEK analisados.

    A administração da enoxaparina consistiu, basicamente, em: 40 mg de enoxaparina diluídos em 500 ml de solução salina balanceada (BSS) para irrigação. Ela foi utilizada para lavar o corante, carregar o enxerto, aspirar o viscoelástico e realizar flushs na câmara anterior para abrir o enxerto. Em procedimentos de Faco-DMEK, foi utilizada em todas as manobras convencionais da facoemulsificação.

    Principais achados:

    A incidência de IFF foi de 5,43% na coorte sem enoxaparina e zero na coorte tratada com enoxaparina. O risco relativo para o uso da enoxaparina foi de 0 (intervalo de confiança: 0), e o Número Necessário para Tratar (NNT) para prevenir um evento de IFF foi de 18,42 casos.

    Segurança:

    Não houve diferenças significativas na taxa de rebubbling (16,98%) entre os grupos, e também não foram observadas alterações significativas na densidade final de células endoteliais ou na acuidade visual melhor corrigida. Além disso, nenhuma complicação intraoperatória ou sangramento intraocular foi observado com o uso de enoxaparina. Pequenos sangramentos superficiais em córneas vascularizadas foram discretos e não comprometeram a cirurgia nem causaram IFF.

    Custo-efetividade:

    A enoxaparina demonstrou ser uma profilaxia segura, eficaz e custo-efetiva. Considerando os valores locais (Espanha), o custo de até 20 seringas de enoxaparina (cerca de €80) para prevenir um caso de IFF é significativamente menor que o custo estimado de €8.800 para um transplante de córnea em caso de falha do enxerto devido à IFF.

    A ideia de utilizar a enoxaparina surgiu com base em seu uso bem-sucedido na prevenção de inflamação e formação de fibrina em pacientes pediátricos com catarata. E, embora os resultados sejam encorajadores, são necessários estudos randomizados e com maior número de participantes para confirmar sua eficácia e aprimorar os protocolos de uso. Vale lembrar que o desenho do tipo “antes e depois” tem como limitação a comparação de grupos em períodos distintos.

    Em resumo:

    A enoxaparina parece ser uma medida preventiva segura, eficaz e econômica contra a formação de fibrina intraoperatória (IFF) durante a cirurgia de DMEK.

    Referência Bibliográfica:

    De-Arriba-Palomero P, Mingo-Botín D, Etxebarría-Ecenarro J, Celis J, Merino-Diez MT, García-Tomás C, Stokking M, Álvarez de Toledo J, Muñoz-Negrete FJ, Arnalich-Montiel F. Effectiveness of enoxaparin in preventing intraoperative fibrin formation during DMEK assessed in a before-and-after study. Sci Rep. 2025 May 2;15(1):15423. doi: 10.1038/s41598-025-99324-x. PMID: 40316667; PMCID: PMC12048528.

    🔍Alteração do complexo músculo ciliar-malha trabecular-canal de Schlemm após facoemulsificação usando OCT

    Um estudo recente, publicado na Ophthalmic Research em janeiro de 2025, conduzido por Zhangliang Li, investigou os mecanismos anatômicos subjacentes à redução da pressão intraocular após a cirurgia de catarata, com especial atenção a olhos que apresentam ângulos estreitos. A cirurgia de catarata demonstra um efeito redutor na pressão intraocular tanto em olhos com glaucoma quanto em olhos sem glaucoma. Este efeito é consistentemente mais notável em olhos com ângulos estreitos do que em olhos com ângulos abertos.

    A investigação utilizou a Tomografia de Coerência Óptica para avaliar as alterações morfológicas no complexo composto pelo músculo ciliar, malha trabecular e canal de Schlemm após a cirurgia de facoemulsificação.

    Metodologia

    Foram realizadas medições detalhadas antes da cirurgia e uma semana após o procedimento, utilizando a Tomografia de Coerência Óptica. Os parâmetros avaliados incluíram:
    • Pressão intraocular.
    • Área da seção transversal do canal de Schlemm.
    • Diâmetro do canal de Schlemm.
    • Largura da malha trabecular.
    • Espessura da malha trabecular.
    • Ângulo íris-trabecular a 500 micrômetros do esporão escleral.
    • Distância entre o ápice interno do músculo ciliar e o esporão escleral.
    Os critérios de exclusão do estudo foram:
    • Grandes complicações durante ou após a cirurgia.
    • Cirurgia intraocular prévia, incluindo iridotomia periférica ou cirurgia a laser.
    • Glaucoma, uveíte, doenças retinianas graves, síndrome de pseudoesfoliação ou outras doenças oculares sérias.
    • Anormalidades corneanas ou conjuntivais (como cicatrizes, desnutrição ou opacidade) que pudessem comprometer a qualidade da imagem da Tomografia de Coerência Óptica de Fonte Varredora.
    • Uso de medicamentos para glaucoma.
    • Imagens da Tomografia de Coerência Óptica nas quais o canal de Schlemm não pôde ser identificado (12 olhos foram excluídos por este motivo).
    • Perda de acompanhamento (14 olhos foram excluídos por este motivo).

    Principais Achados e Implicações Clínicas

    Os resultados do estudo fornecem uma compreensão aprofundada dos mecanismos pelos quais a cirurgia de catarata contribui para a redução da pressão intraocular:
    • Redução da Pressão Intraocular: A pressão intraocular média diminuiu significativamente de 15,4 ± 3,3 mmHg antes da cirurgia para 13,3 ± 3,3 mmHg uma semana após o procedimento (valor p < 0,001).
    • Expansão do Canal de Schlemm e Alterações na Malha Trabecular: Observou-se um aumento estatisticamente significativo na área da seção transversal do canal de Schlemm, no diâmetro do canal de Schlemm, na largura da malha trabecular, na espessura da malha trabecular e no ângulo íris-trabecular a 500 micrômetros do esporão escleral após a cirurgia (todos com valor p < 0,001), tanto nas seções nasal quanto temporal. Em contraste, a distância entre o ápice interno do músculo ciliar e o esporão escleral diminuiu, mas essa diferença não foi estatisticamente significativa (valor p = 0,094 na seção nasal e p = 0,063 na seção temporal).
    Correlações Específicas com a Expansão da Área da Seção Transversal do Canal de Schlemm:
    • A expansão da área da seção transversal do canal de Schlemm foi significativamente associada com o aumento da largura da malha trabecular, da espessura da malha trabecular e do ângulo íris-trabecular a 500 micrômetros do esporão escleral.
    • Na seção nasal, um aumento de 1 micrômetro na largura da malha trabecular correspondeu a um aumento aproximado de 3,39 micrômetros quadrados na área da seção transversal do canal de Schlemm. Para cada aumento de 1 grau no ângulo íris-trabecular a 500 micrômetros do esporão escleral, a área da seção transversal do canal de Schlemm aumentou aproximadamente 61,76 micrômetros quadrados.
    • Na seção temporal, para cada aumento de 1 micrômetro na largura da malha trabecular, a área da seção transversal do canal de Schlemm aumentou aproximadamente 3,56 micrômetros quadrados. Para cada aumento de 1 micrômetro na espessura da malha trabecular, a área da seção transversal do canal de Schlemm aumentou aproximadamente 14,25 micrômetros quadrados.
    Benefício Aprimorado em Ângulos Estreitos:

    A expansão da área da seção transversal do canal de Schlemm foi significativamente maior em olhos com ângulos estreitos em comparação com olhos com ângulos abertos (valor p < 0,001 para ambas as seções, nasal e temporal). Este achado corrobora a explicação para a maior diminuição da pressão intraocular observada em olhos com ângulos estreitos após a cirurgia de catarata.

    Mecanismo Proposto

    A remoção da catarata parece induzir um deslocamento posterior de estruturas anteriores do olho, como o músculo ciliar, o esporão escleral e a raiz da íris. Este movimento resultaria em uma tração posterior no esporão escleral, o que ajustaria as tensões zonulares transmitidas ao esporão escleral, ao músculo ciliar e à malha trabecular. Esse processo, por sua vez, facilita a saída do humor aquoso ao tracionar a malha trabecular em direção ao centro do olho e aumentar o lúmen do canal de Schlemm. Essa facilitação se manifestou como aumentos na largura da malha trabecular, na espessura da malha trabecular, no diâmetro do canal de Schlemm e na área da seção transversal do canal de Schlemm. Anatomicamente, o canal de Schlemm, a malha trabecular e o músculo ciliar estão interconectados, formando uma estrutura de tensão complexa. O relaxamento e a contração da malha trabecular e dos tecidos do canal de Schlemm, regulados pelo músculo ciliar, são responsáveis por ajustar a taxa de saída do humor aquoso. Estudos anteriores demonstraram que a contração do músculo ciliar, induzida por pilocarpina, esticou a malha trabecular e aumentou a área da seção transversal do canal de Schlemm, indicando uma relação entre essas estruturas. Este estudo atual é o primeiro a demonstrar, utilizando a Tomografia de Coerência Óptica, a correlação específica entre as mudanças na área da seção transversal do canal de Schlemm e as mudanças na largura da malha trabecular, espessura da malha trabecular e no ângulo íris-trabecular a 500 micrômetros do esporão escleral uma semana após a cirurgia de catarata.

    Limitações do Estudo

    O estudo apresenta algumas limitações importantes que devem ser consideradas:
    • A exclusão de 10,5% dos olhos ocorreu devido à má qualidade das imagens da Tomografia de Coerência Óptica de Fonte Varredora ou à incapacidade de identificar o canal de Schlemm ou a malha trabecular.
    • Apesar dos esforços para padronizar as varreduras e localizar as estruturas com base na textura dos vasos esclerais e irianos, as posições exatas do canal de Schlemm e da malha trabecular podem não ter sido idênticas nas avaliações pré e pós-operatórias.
    • A avaliação dos parâmetros foi restrita a um único ponto de tempo pós-cirúrgico, especificamente uma semana após a cirurgia. É possível que os parâmetros estudados continuem a apresentar alterações por um período mais longo, o que sugere a necessidade de investigações futuras com períodos de acompanhamento mais extensos.
    Conclusão

    A cirurgia de catarata resulta em redução da pressão intraocular e expansão significativa da área da seção transversal do canal de Schlemm. Este aumento da área da seção transversal do canal de Schlemm está correlacionado com o aumento da largura da malha trabecular, da espessura da malha trabecular e do ângulo íris-trabecular a 500 micrômetros do esporão escleral. A expansão da área da seção transversal do canal de Schlemm é mais pronunciada em olhos com ângulos estreitos quando comparados a olhos com ângulos abertos. Esta maior expansão em olhos com ângulos estreitos pode explicar a maior redução da pressão intraocular observada nesses casos após a cirurgia de catarata. A Tomografia de Coerência Óptica de Fonte Varredora demonstrou ser uma ferramenta valiosa para avaliar as mudanças morfológicas no complexo de drenagem do humor aquoso e aprimorar a compreensão do efeito da cirurgia de catarata.

    Referência Bibliográfica:

    Li Z, Wu X, Ji X, Zhu Z, Zhe N, Zhao Y. The Change of Ciliary Muscle-Trabecular Meshwork-Schlemm Canal Complex after Phacoemulsification using Swept-Source Optical Coherence Tomography. Ophthalmic Res. 2025;68(1):100–107. doi:10.1159/000543303. PMID: 39837299.

    Faricimab no Tratamento da Oclusão da Veia Retiniana

    A Oclusão da Veia Central da Retina (OVCR) é uma das causas mais comuns de perda de visão em todo o mundo, afetando milhões de pessoas e suas famílias.

    O tratamento padrão tem sido as injeções intraoculares de medicamentos anti-VEGF, que são eficazes. No entanto, para muitos pacientes, isso significa injeções repetidas e frequentes, gerando um fardo significativo, com a necessidade de visitas constantes ao médico e um impacto considerável na qualidade de vida. ​

    Além disso, estudos anteriores mostraram que, ao tentar espaçar as injeções com tratamentos existentes, muitas vezes havia uma perda dos ganhos visuais. Mas agora, há uma notícia incrivelmente promissora! Os estudos de fase III BALATON e COMINO trazem à luz o faricimab (Vabysmo) como uma verdadeira inovação que está redefinindo o tratamento da OVCR.

    A Inovação de Dupla Ação do Faricimab: Um Avanço Sem Precedentes!

    O que torna o faricimab tão especial? Ele é o primeiro medicamento com dupla ação projetado especificamente para uso intraocular. Ao contrário dos tratamentos anteriores que focavam em apenas um alvo, o faricimab atua neutralizando dois fatores-chave que impulsionam a progressão da OVR: a Angiopoietina-2 (Ang-2) e o Fator de Crescimento Endotelial Vascular A (VEGF-A).

    Pense nisso como ter duas “armas” poderosas e complementares para combater a doença! A Ang-2 e o VEGF-A trabalham em conjunto, potencializando os efeitos um do outro e aumentando o inchaço e o dano na retina. Ao atacar ambos os caminhos simultaneamente, o faricimab oferece uma abordagem mais abrangente e potencialmente mais eficaz para controlar o edema macular e preservar a visão.

    Os Benefícios Comprovados para o Paciente: Visão Mais Clara, Menos Preocupações!

    Os resultados dos estudos BALATON (para oclusão de ramo da veia central da retina) e COMINO (para oclusão central/hemirretinal da veia da retina – OVCR/OHRV) são impressionantes e trazem esperança renovada:
    • Visão Melhorada e Duradoura: O faricimab não só melhorou significativamente a acuidade visual dos pacientes, mas também manteve esses ganhos notáveis por até 72 semanas (mais de um ano). Em média, os pacientes no estudo BALATON ganharam cerca de 18 letras ETDRS e no COMINO, cerca de 17 letras em gráficos de visão, uma melhora que pode fazer uma grande diferença na vida diária. Além disso, uma vasta maioria dos pacientes (98,9% em BALATON e 93,7% em COMINO na fase inicial com faricimab) evitou uma perda significativa de visão.
    • Edema Reduzido de Forma Consistente: Além da melhora visual, o faricimab demonstrou uma redução consistente e significativa do edema na retina (medido pela espessura do subcampo central – CST), um fator crucial para a saúde e função ocular.
    • Menos Injeções, Mais Liberdade: Este é, talvez, o benefício mais transformador para os pacientes. O faricimab mostrou uma durabilidade excepcional, o que significa que muitos pacientes puderam estender significativamente os intervalos entre as injeções. Ao final do estudo, mais de 64% dos pacientes em BALATON e mais de 45% em COMINO estavam em um regime de doses a cada 12 semanas ou mais (potencialmente a cada 3 ou 4 meses), e uma porcentagem muito pequena (apenas 1,2% em BALATON e 2,5% em COMINO) permaneceu com a necessidade de injeções mensais. Isso se traduz em menos visitas à clínica, menos injeções e um fardo de tratamento drasticamente reduzido. Esse resultado é particularmente notável, pois difere do que foi observado em estudos anteriores com outros anti-VEGFs, onde a redução da frequência de injeções muitas vezes comprometia os resultados visuais.

    Segurança e Confiabilidade Comprovadas

    O faricimab foi muito bem tolerado pelos pacientes nos estudos BALATON e COMINO. O perfil de segurança foi consistente com o que já havia sido estabelecido para o faricimab em outras condições oculares, como degeneração macular relacionada à idade neovascular e edema macular diabético. A incidência de eventos adversos oculares e não oculares foi baixa, e nenhum novo sinal de segurança foi identificado. Embora alguns eventos de inflamação intraocular tenham sido relatados, a maioria foi leve a moderada e se resolveu, e os eventos graves foram raros.

    Estudos Robustos por Trás da Inovação

    Os estudos BALATON (com 553 pacientes) e COMINO (com 729 pacientes) foram conduzidos com o mais alto rigor científico, sendo ensaios de fase III, multicêntricos, randomizados e duplo-cegos. Isso significa que foram desenhados para fornecer dados confiáveis e imparciais. Após um período inicial de comparação com o aflibercepte, todos os pacientes receberam faricimab em um regime de “tratar e estender” modificado, onde a frequência das injeções era ajustada individualmente para maximizar os resultados e a durabilidade.

    Conclusão:

    O faricimab representa um salto significativo no tratamento da Oclusão da Veia Central da Retina. Ao oferecer uma ação dupla inovadora, ele não apenas melhora e mantém a visão de forma robusta, mas também promete reduzir substancialmente a carga do tratamento para os pacientes, permitindo intervalos de dosagem estendidos. Este avanço significa mais tempo livre de injeções e consultas, mantendo a acuidade visual e a qualidade de vida, tudo com um perfil de segurança favorável. É um verdadeiro marco para a saúde ocular, trazendo esperança para aqueles que vivem com OVCR.

    Referência Bibliográfica:

    DANZIG, Carl J. et al. Faricimab Treat-and-Extend Dosing for Macular Edema Due to Retinal Vein Occlusion: 72-Week Results from the BALATON and COMINO Trials. Ophthalmology Retina, [S. l.], publicado online em 17 mar. 2025. DOI: https://doi.org/10.1016/j.oret.2025.03.005. Acesso em: 30 jun. 2025.

    Contato
    Políticas

    Oftalmo News • 2025 • Todos os direitos reservados.

  • Edicao1

    👁️ EDIÇÃO 1 – Junho 2025

    🧬 Terapia Gênica: Nova Era no Tratamento do Glaucoma

    Milhões de pessoas em todo o mundo enfrentam o fantasma da cegueira progressiva e irreversível devido ao glaucoma. Caracterizada pelo aumento da pressão intraocular (PIO) e pela perda das células ganglionares da retina (RGCs), esta neuropatia óptica exige uma abordagem contínua e eficaz. Entretanto, a redução da PIO é a única intervenção comprovadamente eficaz para todas as formas de glaucoma.

    Apesar disso, o tratamento convencional baseia-se em colírios diários. Esta rotina impõe um fardo considerável aos pacientes, resultando em baixa adesão e um desafio significativo que contribui para a progressão da doença. Soma-se a isso o risco de efeitos colaterais sistêmicos indesejáveis, como bradicardia, acidose metabólica e formação de cálculos renais, especialmente com o uso crônico de inibidores da anidrase carbônica (IACs) como a acetazolamida.

    Diante da urgência por terapias mais precisas, duradouras e direcionadas para essa condição crônica, uma inovadora pesquisa traz uma promissora solução: a terapia gênica baseada em CRISPR, que emprega a edição de RNA para controlar a PIO. Os resultados apontam para uma abordagem terapêutica promissora na gestão da PIO eforam publicados na PNAS Nexus

    A Tecnologia CRISPR-Cas13d: Uma Nova Fronteira

    Sob a liderança do Dr. Yang Sun, a equipe da pesquisa utilizou uma técnica de edição gênica baseada em CRISPR para focar na raiz do problema: a produção do humor aquoso no corpo ciliar. Eles empregaram especificamente o Cas13d, um poderoso efetor CRISPR que atua sobre o RNA, para silenciar a expressão de dois genes cruciais envolvidos na secreção do humor aquoso:

    1) Aquaporina 1 (AQP1): Uma proteína transmembrana que permite o transporte passivo de água, implicada na produção do humor aquoso.

    2) Anidrase Carbônica tipo 2 (CA2): Uma enzima bem reconhecida pelo seu papel na secreção do humor aquoso ao afetar o transporte de bicarbonato.

    A premissa é simples, mas engenhosa: ao inativar esses genes no corpo ciliar, a equipe da pesquisa levantou a hipótese de que seria possível bloquear o transporte de água e, consequentemente, reduzir a produção de humor aquoso, diminuindo a PIO.

    A escolha recaiu sobre o hfCas13d – uma variante de alta fidelidade – que demonstrou ser notavelmente mais eficaz na degradação dos mRNAs de AQP1 e CA2 em diversas linhagens celulares (HEK293T, Neuro2a e NIH3T3), superando o hfCas13X. Para entregar essa terapia com precisão ao corpo ciliar de camundongos, foi selecionado o vetor viral ShH10, um sorotipo de AAV otimizado para alta eficiência de transdução nessa área específica do olho.

    Resultados Promissores em Modelos de Camundongos

    Os resultados foram altamente encorajadores. Em camundongos, a terapia com Cas13d demonstrou uma redução significativa da pressão intraocular (PIO) em ambos os modelos estudados: tanto em animais selvagens quanto em modelos de glaucoma induzido por dexametasona.

    Especificamente, observou-se uma queda média de 19,4% na PIO em camundongos selvagens (2,5 ± 0,5 mmHg), acompanhada por reduções de 26,7% no mRNA de CA2 e 56,1% no mRNA de AQP1 no corpo ciliar. Essa redução de mRNA foi confirmada por diminuições nos níveis proteicos de CA2 e AQP1.

    Em modelos de hipertensão ocular induzida por dexametasona, o tratamento com AAV-Cas13d proporcionou uma notável redução de 21,8% na PIO (3,7 ± 1,1 mmHg).

    Esse efeito se correlacionou diretamente com a diminuição dos níveis de mRNA e proteína de AQP1 e CA2 no corpo ciliar, confirmando o mecanismo de ação proposto. Mais importante, o tratamento com AAV-Cas13d não só reduziu a PIO, mas também aumentou a sobrevivência das células ganglionares da retina (RGCs) na retina periférica, um feito crucial dado que a morte dessas células é a marca central do glaucoma.

    Um ponto de destaque é o perfil de segurança favorável. A aplicação intraocular do AAV-Cas13d não gerou efeitos adversos estruturais ou funcionais na retina ou no corpo ciliar dos camundongos. Medidas como a espessura da retina, a espessura do complexo de células ganglionares da retina (GCC) e a função retiniana (PERG) permaneceram inalteradas, reforçando a segurança dessa abordagem inovadora. Além disso, o tratamento com AAV-Cas13d não afetou a facilidade de escoamento do humor aquoso, implicando que a alteração na PIO se deve à redução da expressão de AQP1 e CA21.

    Vantagens Inovadoras da Edição de RNA

    A grande inovação dessa terapia gênica mediada por Cas13d reside em suas vantagens clínicas transformadoras, que a posicionam à frente das abordagens convencionais:

    1) Reversibilidade e segurança sem alterar o DNA:Diferentemente dos sistemas CRISPR-Cas9, que modificam o DNA genômico de forma permanente, o Cas13d atua no RNA. Isso significa que os efeitos da terapia não são permanentes, permitindo que sejam reversíveis e totalmente ajustáveis. Essa flexibilidade é crucial: a dose e a frequência do tratamento podem ser adaptadas à resposta individual do paciente, algo impossível com a edição de DNA. Por exemplo, a dose e frequência do AAV-Cas13d podem ser aumentadas para pacientes em estágios avançados da doença e diminuídas à medida que a PIO responde.

    2) Menor frequência de administração: Em vez da incômoda rotina diária de colírios, esta terapia promissora pode ser administrada com uma frequência muito menor, talvez mensalmente ou até menos. Essa característica tem o potencial de revolucionar a adesão ao tratamento e a qualidade de vida dos pacientes.

    3) Alta fidelidade e precisão: O sistema hfCas13d não só é altamente eficiente, mas também possui uma elevada fidelidade, exibindo atividade no alvo com eficiência comparável ao Cas13d de tipo selvagem. Isso se traduz em mínimos efeitos fora do alvo (off-target) e um impacto insignificante sobre o crescimento celular, reforçando sua segurança para uso terapêutico.

    O Caminho para a Tradução Clínica

    Apesar dos resultados extremamente promissores, os pesquisadores enfatizam que há um caminho a percorrer antes que essa abordagem possa ser aplicada em humanos.

    A jornada para a tradução clínica inclui etapas cruciais, focadas na otimização e validação:

    1) Otimização terapêutica: Definir a dose ideal, frequência e tempo de aplicação para maximizar a eficácia e segurança.

    2) Métodos de entrega aprimorados: Desenvolver abordagens não invasivas de entrega e refinar os sorotipos de AAV. Estratégias como injeções subconjuntivais podem ser necessárias para garantir uma transdução mais localizada e evitar a disseminação indesejada para tecidos periféricos.

    3) Controle preciso da dose: Explorar promotores induzíveis e sistemas de entrega que permitam ajustes não invasivos do efeito terapêutico, adaptando-se às necessidades individuais de cada paciente.

    4) Testes em modelos diversos: Avaliar a terapia em modelos de glaucoma com diferentes graus de severidade, utilizando doses variáveis de AAV, para ajustar o tratamento conforme o estágio da doença.

    5) Ensaios clínicos em humanos: O passo final e mais crítico: estabecer a segurança e eficácia em testes rigorosos com seres humanos.

    Em síntese, a terapia gênica mediada por CRISPR-Cas13d emerge como uma abordagem terapêutica revolucionária para o glaucoma. Com seu potencial de oferecer um controle da PIO mais duradouro, menos invasivo e com maior adesão, esta tecnologia representa uma nova esperança potencialmente transformadora para milhões de pacientes globalmente, prometendo redefinir o futuro do tratamento do glaucoma.

     

    Referência Bibliográfica:

    Siyu Chen et al. Gene therapy for ocular hypertension using hfCas13d-mediated mRNA targeting, PNAS Nexus (2025). DOI: 10.1093/pnasnexus/pgaf168.

    💡 Da Dúvida à Descoberta: Seu Guia para Pesquisar na Residência

    O período da residência médica é, sem dúvida, um dos momentos mais intensos e transformadores da formação de qualquer oftalmologista. Em meio a plantões, cirurgias, consultas e aprendizados práticos, surge uma oportunidade que pode ser um verdadeiro diferencial na sua carreira: a pesquisa científica.

    Fazer pesquisa vai além de produzir artigos, você aprende a pensar de forma crítica, interpretar evidências, entender os fundamentos que sustentam a prática clínica e, principalmente, contribuir para o avanço do conhecimento na sua especialidade.

    Quem aprende a fazer pesquisa se torna, inevitavelmente, um profissional mais preparado, questionador e atualizado.

    Primeiramente, escolha um tema que te motive, observe no dia a dia da residência quais são as dúvidas recorrentes, as lacunas na literatura ou os problemas que te despertam curiosidade. A melhor pesquisa nasce de uma pergunta genuína.

    Paralelamente busque um orientador ou mentor que já tenha experiência em pesquisa. Um bom mentor pode encurtar muito o caminho, ajudando na escolha do tema, no delineamento metodológico e na condução do projeto.

    Importante! Comece simples, nem todo estudo precisa ser um ensaio clínico robusto, visto que revisões de literatura, relatos de caso bem estruturados, séries de casos ou análises retrospectivas são excelentes portas de entrada no mundo da pesquisa.

    Aprenda o básico de metodologia, faz toda diferença ter noções de desenho de estudo, bioestatística e redação científica. Para isso, procure cursos online, presenciais e workshops específicos para médicos.

    Seja resiliente, pesquise com disciplina, paciência e aceite os erros e ajustes ao longo do caminho. Cada dificuldade enfrentada traz um aprendizado que, certamente, te fará um profissional melhor.

    A pesquisa não é um fim, é um meio. Um meio de transformar dúvidas em respostas, observações em conhecimento e experiências em legado para a oftalmologia. Se você tem vontade, curiosidade e disposição, comece.

    Prof. Dr. Eric Pinheiro de Andrade
    ● Afiliado do Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais da EPM/Unifesp.
    ● Coordenador do Ensino do IPEPO.
    ● Coordenador da Educação Médica Continuada do Iamspe.
    ● Vice-Presidente da Associação Brasileira de Neuro-Oftalmologia.

    🔍 Preferências de LIOs: O que Escolhem os Cirurgiões Britânicos

    Neste artigo, os autores delinearam um estudo para investigar qualitativa e quantitativamente as preferências de alguns cirurgiões refrativos na hora de escolher a melhor lente intraocular (LIO) para seus pacientes, seja para cirurgia de catarata convencional ou para trocas de cristalino transparente com finalidade refrativa.

    Dentro de uma base de dados do Reino Unido, foi realizada uma pesquisa online com alguns cirurgiões. Os autores obtiveram 81,6% de taxa de resposta, com 30 respostas completas. A mediana de anos de experiência dos participantes foi de 12,5 anos, com intervalo de 3 a 31 anos. Foram excluídos cirurgiões com menos de 3 anos de experiência.

    Para a cirurgia de catarata em pacientes sem qualquer patologia ocular ou de superfície, observou-se uma grande popularidade das LIOs EDOFs, atingindo a preferência de 30% dos cirurgiões do estudo. Na sequência, vieram as LIOs monofocais e trifocais, empatadas com 20% cada.

    As principais razões citadas como motivo da escolha foram: melhores resultados visuais gerais (88,9%), menores sintomas indesejados (66,7% para monofocais) e maior independência dos óculos (66,7% para trifocais).

    Cirurgiões com menos de 10 anos de prática preferiram as EDOFs e, em segundo lugar, as trifocais, ao passo que cirurgiões com mais de 10 anos preferiram as monofocais, seguidas pelas EDOFs. Os autores justificam essa escolha, em parte, pela data de aprovação das EDOFs no continente europeu: 2014. Nesse sentido, os cirurgiões mais experientes podem, em parte, preferir as lentes monofocais por maior familiaridade. Importante ressaltar, entretanto, que numericamente ambos estão próximos (26,3% para monofocais x 21,1% para EDOFs).

    Já no contexto de cirurgia facorrefrativa (retirada do cristalino com finalidade refrativa) em pacientes acima de 50 anos, o cenário muda um pouco: os cirurgiões com menos de 10 anos de experiência continuam preferindo as EDOFs (54,5%), seguidas das trifocais (27,3%), ao passo que os cirurgiões com mais de 10 anos de experiência preferem as trifocais (31,6%), seguidas pelas EDOFs (26,3%).

    A respeito da mini-monovisão com lentes EDOFs, a prática é bem vista pelos cirurgiões, sendo recomendada por 83,3% deles (40% para a maioria dos pacientes e 43,3% para pacientes selecionados). Essa preferência não apresentou relação estatisticamente significativa com os anos de prática. O alvo preferido para esses cirurgiões era de -0,50D, e a literatura atual reforça bons resultados com -0,75D.

    Sobre a prática de “mix and match”, também conhecida como blends no Brasil, 60% dos cirurgiões não recomendaram essa abordagem. Curiosamente, essa escolha apresentou diferença estatisticamente significativa (p = 0,003), sendo os cirurgiões mais experientes mais abertos a essa prática.

    No tocante ao uso de lentes tóricas, 40% demonstraram preferir implantar LIOs tóricas para astigmatismo de 1 dioptria (D) ou superior, enquanto 30% optam por elas para astigmatismo inferior a 1D. Essa escolha não demonstrou correlação com a experiência do cirurgião.

    Referência Bibliográfica:

    Kabbani, J., Price, L., Patel, R. et al. A survey of intraocular lens preferences of UK refractive surgeons for cataract surgery and refractive lens exchange. BMC Ophthalmol24, 397 (2024). https:/ /doi.org/10.1186/s12886-024-03639-8

    🎯 Ray Tracing + RM: Revolução na Personalização do Controle da Miopia

    Você sabia que a prevalência de miopia está crescendo em um ritmo alarmante? As projeções indicam que, até 2050, metade da população mundial será míope e 10% terão alta miopia. Diante desse cenário, a busca por estratégias eficazes para prevenir o desenvolvimento e reduzir a progressão da miopia se tornou uma prioridade global.

    Mas como podemos combater essa “epidemia da visão”? As abordagens atuais se dividem em três categorias principais:

    1) Intervenções no estilo de vida: Foco na redução do trabalho de perto e no aumento da exposição ao ar livre.

    2) Intervenções farmacológicas: Principalmente com o uso de atropina.

    3) Intervenções ópticas: Aqui reside uma das áreas mais inovadoras!

    O Desfoque Periférico: A Chave para Entender a Miopia

    A base das intervenções ópticas é um conceito fascinante: o desfoque periférico hipermetrópico (quando a luz focaliza atrás da retina na periferia) parece contribuir para o avanço da miopia, enquanto o desfoque periférico miópico (quando a luz focaliza à frente da retina na periferia) pode ajudar a retardar ou até mesmo impedir sua progressão. Estudos já confirmaram que crianças míopes frequentemente apresentam uma maior refração periférica relativa (RPR) hipermetrópica em comparação com seus pares.

    É com base nessa observação que óculos e lentes de contato com designs especializados são desenvolvidos: eles visam induzir esse desfoque miópico na retina periférica, mantendo, ao mesmo tempo, uma visão central nítida.

    Ray Tracing: Medindo a Visão Periférica com MaiorPrecisão

    Diferentemente dos métodos de auto-refração fora do eixo, o ray tracing não é afetado por erros de fixação ou distorções ópticas. No entanto, seus resultados dependem da exatidão anatômica dos modelos oculares utilizados — o que inclui formas retinianas anatomicamente corretas, que são difíceis de medir com os instrumentos oftalmológicos convencionais. A boa notícia é que avanços recentes na ressonância magnética (RM) agora permitem a quantificação da forma da retina.

    Essa abordagem oferece uma nova maneira de avaliar, em nível individual, o impacto das intervenções ópticas sobre a retina. Ao simular os trajetos da luz através de diferentes lentes e estruturas oculares, o ray tracing pode o desfoque periférico. Mais importante ainda, ao incorporar a forma retiniana específica de cada paciente, ele possibilita previsões mais precisas sobre o potencial das estratégias para desacelerar o crescimento miópico, o que pode redefinir o futuro da personalização no controle da miopia.

    Por Que a Personalização é Crucial?

    Nossos olhos são únicos, e a anatomia da retina não é exceção! Dados de ressonância magnética revelaram uma variação significativa nos raios de curvatura retiniana horizontal e vertical entre indivíduos, com um desvio padrão de 1 mm. Essa diferença anatômica pode resultar em variações clinicamente relevantes na refração periférica – superiores a 8 dioptrias – mesmo entre crianças com comprimento axial e erro esférico central semelhantes. Isso significa que o comprimento axial e o erro esférico central, sozinhos, não são suficientes para determinar se alguém tem RPR hipermetrópica ou miópica.

    É crucial entender que a hipermetropia periférica acelera a progressão da miopia ou aumenta o risco de seu desenvolvimento. Este estudo identificou que valores mais elevados de RPR estão fortemente associados tanto ao crescimento mais rápido do comprimento axial quanto ao aumento do risco de desenvolvimento de miopia.

    Entre as 962 crianças, que no início do acompanhamento não apresentavam miopia, 214 (22,2%) desenvolveram miopia entre os 9 e 14 anos de idade. A análise estatística mostrou um aumento significativo no risco de desenvolver miopia para cada dioptria adicional de RPR, reforçando o papel da RPR como um marcador de risco precoce para o desenvolvimento de miopia.

    O Poder Preditivo da RPR e o Futuro das Intervenções

    Os achados deste estudo não apenas demonstram a viabilidade do uso do ray tracing em pesquisas populacionais sobre miopia, como também fornecem evidências de que a refração periférica relativa (RPR), tanto na direção horizontal quanto na vertical, está significativamente associada à progressão mais rápida do comprimento axial e ao maior risco de desenvolvimento de miopia.

    Além disso, o valor preditivo da RPR foi comparável ao do comprimento axial isolado, e a combinação de ambos os parâmetros aumentou a acurácia preditiva. Esses resultados reforçam o papel da refração periférica na progressão da miopia, confirmando seu potencial como alvo estratégico para intervenções preventivas. O que reafirmar a importância de se considerar a anatomia retiniana ao estudar ou intervir na refração periférica.

    Atualmente, a maioria das intervenções ópticas utiliza zonas de desfoque positivo padronizadas, baseadas apenas no erro refracional central. No entanto, os dados deste estudo sugerem que as estratégias de desfoque devem ser individualizadas para otimizar os resultados terapêuticos. A variabilidade anatômica na curvatura retiniana pode explicar os resultados inconsistentes observados em outros estudos sobre intervenções ópticas padronizadas.

    Esses achados têm implicações diretas para intervenções ópticas já existentes, como DIMS (Defocus IncorporatedMultiple Segments), HALT (Highly Aspherical Lensletsfor Myopia Control) e DOT (Diffusion OpticsTechnology). Embora essas abordagens já demonstrem eficácia significativa na prevenção e controle da miopia, o elemento comum é a capacidade de induzir um desfoque miópico periférico relativo, mantendo a correção central eficaz. A personalização baseada na RPR pode otimizar ainda mais esses resultados terapêuticos.

    A metodologia de ray tracing, embora necessite de validação direta com outros métodos, é bem estabelecida na cirurgia refrativa, o que sustenta sua confiabilidade. A alta variabilidade individual na RPR observada neste estudo ressalta a importância de terapias personalizadas e mais eficazes para a redução da progressão miópica.

    Em resumo, a refração periférica relativa (RPR) é um fator crucial na progressão da miopia, e a integração de tecnologias como o ray tracing individualizado com imagens de ressonância magnética abre caminho para um futuro em que o controle da miopia será altamente personalizado e mais eficaz.

    Referência Bibliográfica:

    A Novel MRI-Based Approach to Peripheral Refraction and Prediction of Myopia Progression Kneepkens, S.C.M. et al. American Journal of Ophthalmology, Volume 0, Issue 0

    Contato
    Políticas

    Oftalmo News • 2025 • Todos os direitos reservados.