👁️ EDIÇÃO 6 - Julho 2025

📰 LIO Tórica em Astigmatismo Irregular? Dois Estudos Reforçam Indicações em Casos Selecionados

O estudo “Efficacy of toric intraocular lens implantation in individuals with cataracts and asymmetric corneal astigmatism” avaliou a eficácia e segurança do implante de lentes intraoculares tóricas (LIOs tóricas) em pacientes com catarata e astigmatismo corneano assimétrico. Foram analisados 26 olhos de 21 pacientes com astigmatismo ≥ 0,75 D e distribuição assimétrica no centro da córnea, identificada por Pentacam. O cálculo das LIOs foi feito com a fórmula Barrett Toric, e a cirurgia incluiu facoemulsificação com implante da LIO AcrySof IQ Toric no saco capsular.

Três meses após o procedimento, houve melhora significativa da acuidade visual: a UCVA média passou de 0,70 para 0,18 logMAR e a BCVA de 0,50 para 0,00 logMAR. Em 88% dos casos, a visão não corrigida pós-operatória foi igual ou melhor que a visão corrigida prévia. O astigmatismo residual foi ≤ 1,00 D em 96% dos olhos, com 77% apresentando ≤ 0,50 D. A rotação média da LIO foi de apenas 2,46°, demonstrando boa estabilidade.

A qualidade visual objetiva foi melhor sob pupilas pequenas (2 mm), com piora progressiva à medida que o diâmetro pupilar aumentava, devido a aberrações de alta ordem como coma e trefoil. Os valores de Strehl e MTF confirmaram essa tendência.

Conclui-se que a LIO tórica é eficaz e segura em casos selecionados de astigmatismo corneano assimétrico com componente central regular. A qualidade visual é melhor com pupilas menores, e o sucesso depende de avaliação pré-operatória criteriosa, especialmente em relação à regularidade da zona central da córnea.

The Effect of Toric Intraocular Lens Implantation in Irregular Corneal Steep and Flat Meridian:

Este estudo retrospectivo avaliou a eficácia do implante de lentes intraoculares tóricas em pacientes com catarata e astigmatismo corneano irregular, com foco específico em desvios no meridiano mais curvo (steep) e nos meridianos curvo e plano (steep and flat). Foram analisados 112 olhos de 78 pacientes submetidos à cirurgia com LIO tórica Tecnis ZCT. Os desvios foram medidos com a Pentacam, sendo definidos como a diferença angular entre os eixos corneanos esperados (180° para o meridiano mais curvo e 90° entre os meridianos curvo e plano) e os valores reais obtidos. Em outras palavras, o estudo não considera "desvio" como o tipo de astigmatismo (por exemplo, a favor ou contra a regra), mas sim o grau de irregularidade do eixo — quanto mais afastado dos valores esperados, mais irregular a córnea.

A acuidade visual não corrigida (UCVA) e corrigida (BCVA) melhoraram significativamente após a cirurgia. O cilindro do autorrefrator médio caiu de 2,21 D para 0,57 D, e a rotação média da lente foi de 3,2°, considerada estável. No entanto, pacientes com desvios angulares superiores a 10° (ou seja, com meridianos significativamente desalinhados em relação ao padrão simétrico corneano) apresentaram menor ganho visual e maior astigmatismo residual. Houve correlação direta entre o aumento desses desvios e os valores residuais de astigmatismo.

Em resumo, pacientes com córneas mais simétricas — ou seja, com eixos próximos de 180° (meridiano mais curvo) e 90° entre os meridianos curvo e plano — obtiveram os melhores resultados, independentemente de o astigmatismo ser a favor ou contra a regra. O estudo conclui que a LIO tórica pode ser eficaz mesmo em casos de astigmatismo irregular, desde que os desvios de eixo sejam pequenos (menores que 10°). Acima disso, a precisão da correção diminui, sendo necessário avaliar cuidadosamente a regularidade do eixo corneano antes da cirurgia.

Take-Home Message

A lente intraocular tórica pode ser uma opção eficaz e segura para pacientes com catarata e astigmatismo irregular ou assimétrico, desde que exista uma zona óptica central mensurável e regular. Em casos com astigmatismo assimétrico (diferenças >1.2 D entre meridianos) ou com desvios dos meridianos corneanos <10° daquilo que é considerado o ideal, os resultados refrativos e visuais são significativamente melhores. A análise do comportamento da pupila é essencial: pupilas menores tendem a preservar melhor a qualidade óptica, enquanto diâmetros maiores podem expor áreas irregulares da córnea, comprometendo o desempenho visual. O sucesso depende de planejamento cirúrgico rigoroso, consistência entre plataformas diagnósticas e alinhamento preciso da lente.

Referência Bibliográfica:

1 - Hwang, H. S., Kim, H. S., Kim, M. S., & Kim, E. C. (2021). The Effect of Toric Intraocular Lens Implantation in Irregular Corneal Steep and Flat Meridian. Journal of Ophthalmology, 2021, Article ID 6637479. https://doi.org/10.1155/2021/6637479 2 - Xue, J., Pan, A., Shao, X., & Xu, X. (2025). Efficacy of toric intraocular lens implantation in individuals with cataracts and asymmetric corneal astigmatism. Photodiagnosis and Photodynamic Therapy, 52, 104515

Você Está Praticando Medicina Como Se Fosse 2019 (E Perdendo a Revolução Mais Importante da História)

Enquanto Dr. João Marcelo Lyra desenvolve uma lente com IA em milhões de simulações e o Google treina algoritmos para diagnosticar retinopatia diabética, você ainda analisa exames "no olho" e faz anotações à mão.

Você conhece médicos que passam 3 horas realizando relatórios e laudos, sendo que a IA consegue processar em 30 segundos?

Ou aqueles profissionais que "chutam" diagnósticos em vez de usar algoritmos treinados com milhões de casos clínicos?

Conhece alguém assim? Pois é, eu já tive comportamentos parecidos.

Já gastei 10 minutos para fazer um laudo que poderia ser feito em 10 segundos, já fiquei em dúvida de condutas, sendo que poderia ter discutido o caso clínico com especialistas que tem todo o conhecimento do mundo (sim, a IA). Ficava quebrando cabeça no consultório fazendo relatórios que poderiam ser automatizados.

E sabe o mais impressionante? Eu achava que isso me fazia um médico dedicado.

E o resultado para a maioria dos médicos? Burnout, consultas atrasadas, e a sensação constante de estar sendo deixado para trás por algo que não conseguia definir.

Sabe o que mudou do médico de 2019 que fazia tarefas burocráticas manualmente para o de 2025 que usa IA para diagnosticar, prescrever e até desenvolver tratamentos personalizados?

Ele parou de escolher ficar cego.

Porque é isso que fazemos quando insistimos em trabalhar com métodos antigos quando existe uma revolução acontecendo. Escolhemos não enxergar que a medicina mudou para sempre.

A ferramenta para enxergar sempre esteve lá. Mas preferimos continuar no borrado porque aceitar que existe uma forma melhor significa aceitar que poderíamos estar salvando mais vidas, tratando melhor, diagnosticando mais rápido.

Sabe por que escolhemos ficar cegos quando os "óculos da IA" estão bem na nossa frente?

Porque é mais fácil fingir que não sabemos do que admitir que estávamos praticando medicina do século passado.

E agora apareceu um tipo completamente novo de "superinteligência médica" que a maioria dos profissionais nem sabe que existe.

Eric Topol, cardiologista e pesquisador da Scripps, foi direto ao ponto: no futuro, não usar IA na medicina vai colocar você em desvantagem cognitiva. Como um médico que precisa de óculos mas insiste em operar sem eles.

Enquanto grandes hospitais brigam por equipamentos caros e sistemas tradicionais, ele apostou uma carreira inteira numa ideia diferente: democratização da superinteligência médica.

Imagens da retina podem revelar o controle de diabetes, pressão arterial, doenças renais e hepáticas, escore de cálcio do coração, doença de Alzheimer (antes dos sintomas), risco de ataques cardíacos e derrames, hiperlipidemia e até doença de Parkinson sete anos antes de qualquer sintoma.

Algoritmos que analisam milhões de exames antes de chegar à sua mesa, que aprendem com casos clínicos globais, e que viram a interface perfeita entre seu conhecimento e a precisão diagnóstica.

Para bancar isso, empresas como Google, Microsoft e IBM investiram bilhões em modelos médicos específicos. Projetos chamados MAI-DxO e MedGemma. Tudo validado com exemplos reais.

Essa semana mesmo, estou testando IA (que você pode ter acesso no seu celular) para análise de exames oftalmológicos em tempo real no meu consultório. É só o começo de algo que vai mudar como praticamos medicina.

Literalmente.

Mas enquanto as big techs brigam pelos territórios, uma coisa já ficou clara: quem está usando essas "ferramentas inteligentes" hoje está oferecendo cuidados que outros nem sabem que são possíveis.

E quem não está? Continua achando que intuição médica supera dados de milhões de casos.

A pergunta é: você vai continuar escolhendo ficar cego ou vai colocar os óculos da IA antes que seja tarde demais?

O que está rolando nos bastidores enquanto você decide...?

Por Que o Google Está Revolucionando Enquanto Médicos Ainda Resistem

O que está rolando nos bastidores é uma corrida silenciosa pelos algoritmos que vão definir o futuro da medicina.

No último ano, o Google fez algo que mudou tudo: criou modelos, treinou, para que possam ter a capacidade de interpretar e discutir casos reais na área da saúde.

Não foi caridade. Foi estratégia.

Eles entenderam que treinar IA médica com casos reais de hospitais do mundo inteiro cria um conhecimento coletivo que nenhum médico individual pode competir.

Sabe o que eles podem fazer hoje?
  • Analisar radiografias de tórax com 94% de precisão (média de radiologistas é 91%)
  • Processar 10.000 exames de retina por hora detectando retinopatia diabética
  • Sugerir diagnósticos diferenciais baseados em 280 milhões de casos clínicos
  • Gerar relatórios médicos em 12 idiomas diferentes
  • Identificar padrões em exames que olho humano não consegue ver

Enquanto médicos discutem se "IA vai substituir o profissional", ela já está sendo a segunda opinião de radiologistas com ganho de 40% no número de laudos/hora graças à IA generativa.

A diferença é que o Google não quer substituir médicos. Quer amplificar o que você já faz bem.

Mas aqui está o que realmente importa: isso não é sobre tecnologia futurista.

É sobre você ter acesso hoje ao que grandes centros médicos usam para se destacar.

Não é coincidência que isso está acontecendo agora.

Porque quem controlar a IA aplicada à medicina vai definir como bilhões de pessoas vão ser tratadas nos próximos 20 anos.

O Google entendeu que a corrida não é para criar a IA mais complexa.

É para criar a IA que mais médicos vão conseguir usar.

E enquanto isso acontece nos laboratórios, lá fora o movimento está ganhando velocidade de uma forma que poucos esperavam...

A Revolução Está Chegando nos Consultórios

E quando falo que o movimento está ganhando velocidade, não é exagero.

Microsoft — a empresa que domina 90% dos computadores médicos — lançou o Copilot for Healthcare.

Não é só mais um software médico. É inteligência artificial que lê seus casos, sugere condutas baseadas em guidelines atualizados e até redige relatórios médicos automaticamente.

Se tem uma coisa que Microsoft entende é como tornar tecnologia parte da rotina. E se eles estão apostando nisso na medicina, é porque viram algo que a maioria ainda não percebeu.

Mas aí que fica interessante.

Do outro lado do mundo, a Rayner conseguiu reduzir desenvolvimento de lentes intraoculares de 8 anos para 4 anos usando IA para simular milhões de interações ópticas.

A RayOne Galaxy, desenvolvida em parceria com Dr. João Marcelo Lyra, é a primeira lente intraocular criada por algoritmos de machine learning.

E tem uma ironia brutal nisso: enquanto médicos brasileiros discutem se IA é confiável, um oftalmologista brasileiro está criando a tecnologia que o mundo inteiro vai querer usar.

Sabe o que isso significa?

A revolução não está vindo. Já chegou.

É como se você tivesse a ferramenta mais avançada do mundo disponível no seu smartphone, mas ainda preferisse usar fax pra receber resultado de exame.

O que você faria?

Exato. Pararia de resistir e começaria a usar.

Enquanto isso, todo mundo está se mexendo. Microsoft integrando IA em prontuários. Google democratizando diagnóstico por imagem. Médicos brasileiros liderando inovação global.

E a velocidade está tão alta que quem hesita nem consegue acompanhar mais.

Você Pode Implementar IA na Sua Prática Hoje Mesmo

"Tudo bem, mas o que eu tenho a ver com isso?"

Tudo.

Porque aqui está a oportunidade que poucos perceberam: você está no momento ideal para se destacar implementando IA acessível na sua rotina.

62% dos médicos relatam burnout por excesso de tarefas administrativas que poderiam ser automatizadas. Isso significa que a corrida agora não é por mais conhecimento técnico - é por eficiência inteligente.

Por que o CFM já está falando sobre IA? Por que grandes hospitais adotaram massivamente? Por que os resultados foram tão consistentes?

Porque eles entenderam algo fundamental: quem souber aplicar IA no dia a dia vai multiplicar sua capacidade de atendimento, precisão diagnóstica e retorno financeiro.

Eles não precisam de médicos que entendam programação. Precisam de profissionais que transformem algoritmos avançados em cuidado real que funciona.

Enquanto outros discutem teoria, as ferramentas para implementar IA já estão disponíveis no seu celular.

E aqui está onde a oportunidade fica clara: não precisa ser especialista em tecnologia, nem ter orçamento de hospital. Precisa parar de escolher ficar cego para a revolução.

Lembra do que falei na introdução? Analisar exames por horas quando poderia processar em minutos com IA.

A diferença entre resistir à mudança e abraçar a evolução não é conhecimento técnico. É parar de escolher enxergar borrado quando os óculos da IA estão bem na frente.

Agora você pode fazer o mesmo com ferramentas acessíveis:
  • Use ChatGPT para segunda opinião em casos complexos
  • Implemente análise automática de topografia no seu consultório - alta precisão
  • Automatize laudos de exames de rotina - reduza 80% do tempo
  • Configure alertas inteligentes para acompanhamento de pacientes crônicos

Enquanto big techs brigam por bilhões, você pode ter acesso à inteligência artificial que elas usam para impressionar congressos médicos.

A diferença é que você não precisa contratar um time de desenvolvedores de IA.

Você precisa de alguém que entenda exatamente como implementar IA médica na SUA especialidade, com os SEUS pacientes, na SUA rotina diária.

Não é para todo médico. É para quem realmente quer fazer parte da revolução.

Sabe porque você chegou até aqui?

Claro que usei IA para me ajudar a escrever esse texto.

E aí você pensou agora “que triste, achei que era um texto bem feito e persuasivo, que prendeu minha atenção, feito por um oftalmologista… mas foi só mais uma da IA”

E eu te respondo: Negativo! As ideias são minhas, a IA só me ajuda a enxergar melhor o que já está aqui dentro.

Pois médicos inteligentes usam inteligência artificial

Júlio Rezende de Andrade | @julioandrade.ia

Terapia de Luz Vermelha de Baixo Nível Repetida (RLRL) para o Controle da Miopia: Eficácia e Segurança Atual

A miopia, um erro refrativo comum que leva à visão embaçada de objetos distantes, está em ascensão global, com projeções indicando que quase metade da população mundial será míope até 2050. A miopia alta, especificamente acima de -6,00 dioptrias, pode resultar em complicações graves e perda irreversível da visão. Diante desse cenário, intervenções precoces são cruciais. A Terapia de Luz Vermelha de Baixo Nível Repetida (RLRL) emergiu como uma promissora modalidade de tratamento para controlar a progressão da miopia em crianças e adolescentes.

A RLRL é um tratamento não-invasivo que utiliza irradiação repetida de luz vermelha de baixa intensidade (geralmente 650 ± 10 nm de comprimento de onda) em ambos os olhos.

Apesar de seu potencial para controlar o crescimento axial ocular, seus efeitos a longo prazo nos fotorreceptores da retina permanecem relativamente desconhecidos.

Estudo de Eficácia: Comparação de Intervenções para o Controle da Miopia (Zheng et al., 2025)

Uma meta-análise em rede recente e abrangente, publicada no British Journal of Ophthalmology, comparou a eficácia de diferentes intervenções para o controle da miopia em crianças.

Objetivo e Metodologia:
  • Objetivo: Comparar a eficácia de intervenções como 0,01% atropina (AP), ortoceratologia (Ortho-k), terapia RLRL e suas combinações.
  • Design: Revisão sistemática e meta-análise em rede de ensaios clínicos randomizados (RCTs).
  • Resultados Primários: Mudanças médias no equivalente esférico cicloplégico (SE) e no comprimento axial (AL) em 12 meses de acompanhamento.
  • Dados: Análise de 41 RCTs, totalizando 6434 olhos.

Principais Descobertas de Eficácia:
  • Todas as intervenções eficazes: Comparado ao grupo controle, todas as intervenções analisadas (RLRL, 0,01% AP, Ortho-k e 0,01% AP + Ortho-k) foram eficazes em retardar a progressão da miopia.
  • RLRL: AL −0,31 mm; SE 0,76 D (em 12 meses).
  • 0,01% Atropina: AL −0,13 mm; SE 0,25 D (em 12 meses).
  • Ortho-k: AL −0,16 mm; SE 0,58 D (em 12 meses).
  • 0,01% Atropina + Ortho-k: AL −0,27 mm; SE 0,76 D (em 12 meses).
  • RLRL é a mais eficaz: A classificação de probabilidade cumulativa (que combina evidências diretas e indiretas) sugeriu que a terapia RLRL foi a intervenção mais eficaz no retardo do alongamento axial (AL).
  • Classificação para AL (12 meses): RLRL (G3,4%) > 0,01% AP + Ortho-k (80,G%) > Ortho-k (42,8%) > 0,01% AP (32,8%).
  • Classificação para SE (12 meses): RLRL (80,8%) > 0,01% AP + Ortho-k (80,0%) > Ortho-k (60,4%) > 0,01% AP (28,3%).
  • Isso indica que a RLRL se destaca como a intervenção mais eficaz para o controle da miopia a longo prazo, tanto para AL quanto para SE.

Mecanismos Propostos para a RLRL: Apesar da eficácia, o mecanismo da RLRL ainda não é completamente claro. No entanto, pesquisas sugerem três potenciais mecanismos:
  • Melhora do Fluxo Sanguíneo Coroidal: A RLRL pode aliviar a hipóxia escleral (falta de oxigênio na esclera) ao aumentar o fluxo sanguíneo coroidal, o que reduziria o estresse oxidativo e a inflamação, e aumentaria os níveis de colágeno escleral.
  • Aumento da Espessura Coroidal: A terapia pode inibir o alongamento axial aumentando a espessura da coroide, reduzindo o crescimento da cavidade vítrea.
  • Reposicionamento da Retina: Uma coroide mais espessa empurra a retina para a frente, diminuindo a distância da córnea à retina e, consequentemente, retardando o alongamento axial. Alguns estudos relataram que a RLRL pode até reverter o aumento da dioptria e do AL.

Comparação com Outras Terapias:
  • Ortoceratologia (Ortho-k): Utiliza lentes de contato noturnas para achatar a córnea e reduzir o desfoque hiperópico periférico. É eficaz, mas seu efeito no equivalente esférico pode ser superestimado se não for medido após a descontinuação do uso, devido à remodelação temporária da córnea.
  • Atropina (AP): Um agente farmacológico que inibe significativamente o alongamento axial e as mudanças no SE. A eficácia depende da concentração, com baixas doses de 0,01% sendo bem toleradas e com mínimos efeitos colaterais. A Atropina atua modulando receptores de acetilcolina que regulam sinais de crescimento na retina e esclera.
  • Terapias Combinadas: Estudos mostram que a combinação de intervenções, como AP + Ortho-k, é frequentemente mais eficaz do que intervenções isoladas. Curiosamente, a RLRL superou a terapia combinada AP + Ortho-k em 12 meses, sugerindo um efeito tardio devido ao tempo necessário para a remodelação escleral.

Estudo de Segurança: Alterações da Densidade dos Cones Após Terapia RLRL (Liao et al., 2025)

Um estudo de coorte multicêntrico retrospectivo recente, publicado no JAMA Ophthalmology, avaliou as mudanças na densidade dos fotorreceptores de cones em crianças com miopia submetidas à terapia RLRL, utilizando oftalmoscopia a laser de varredura de óptica adaptativa de alta resolução (AOSLO).

Objetivo e Metodologia:
  • Objetivo: Avaliar as alterações na densidade dos fotorreceptores de cones associadas à terapia RLRL em crianças com miopia.
  • Design: Estudo de coorte retrospectivo multicêntrico, analisando dados de janeiro a março de 2024, focado em crianças chinesas com miopia, com idades entre 5 e 14 anos.
  • Participantes: Incluiu 99 crianças com miopia, sendo 52 no grupo RLRL (97 olhos) que receberam irradiação diária por mais de 12 meses, e 47 no grupo controle (74 olhos) que nunca foram expostas à terapia RLRL.
  • Medidas: A densidade dos fotorreceptores de cones foi medida ao longo de 4 meridianos retinianos, da fóvea central até 4° de excentricidade, usando imagens de AOSLO. Anormalidades do fundo de olho foram avaliadas com AOSLO, OCT e fotografia de fundo.

Principais Descobertas de Segurança:
  • Redução da Densidade dos Cones: Usuários de RLRL demonstraram diminuição da densidade dos cones, particularmente dentro de 0,5 mm de excentricidade do centro foveal, sendo mais notável na região temporal. A 0,3 mm de excentricidade temporal, o grupo RLRL apresentou uma diferença média de −2,1 × 10³ células/mm² em comparação com o grupo controle (P = 0,003).
  • Sinais Anormais (Lesões Semelhantes a Drusas): Um total de 11 olhos (de 10 participantes) exibiu sinais anormais de baixa frequência e alto brilho próximos à fóvea. A razão de chances de sinais anormais em usuários de RLRL versus não-usuários foi de 7,23 (P = 0,02), indicando uma ocorrência significativamente maior de anomalias em usuários de RLRL. Essas alterações foram consideradas semelhantes a manifestações de danos do tipo drusas. Drusas são depósitos sub-retinianos geralmente associados ao envelhecimento, e sua maior prevalência em usuários de RLRL levanta preocupações.
  • Anormalidades Cistoides Transitórias: Um participante no grupo RLRL apresentou pequenas cavidades cistoides na camada de células ganglionares no OCT, que apareceram como aglomerados de células nas imagens correspondentes de AOSLO. Notavelmente, essas cavidades se resolveram completamente 3 meses após a interrupção da terapia RLRL, sugerindo que a terapia pode exceder os limites de tolerância do tecido retiniano.

Conclusões e Relevância para a Segurança:
  • Os resultados sugerem que a terapia RLRL por pelo menos um ano esteve associada à redução da densidade dos cones na fóvea paracentral e outras anormalidades retinianas sutis em algumas crianças que recebem esse tratamento para controle da miopia.
  • Essas descobertas ressaltam a necessidade de mais pesquisas para avaliar a segurança a longo prazo da terapia RLRL em pacientes pediátricos, especialmente considerando a resolução limitada dos equipamentos de diagnóstico tradicionais para observar células fotorreceptoras no nível celular.
  • Embora a dose total de exposição à luz vermelha não tenha se correlacionado diretamente com a densidade dos cones, isso pode ser explicado por variações individuais na sensibilidade da retina ou limitações na quantificação da exposição.

Considerações Finais e Implicações Clínicas

Os dois estudos trazem perspectivas complementares sobre a terapia RLRL. Enquanto a meta-análise de Zheng et al. a posiciona como a intervenção mais eficaz para o controle da miopia, a pesquisa de Liao et al. levanta sérias preocupações sobre sua segurança retiniana no nível celular.

É fundamental que os oftalmologistas considerem ambos os lados da moeda. A eficácia da RLRL em retardar o alongamento axial e a progressão do equivalente esférico é notável. Contudo, a detecção de diminuição da densidade dos cones, sinais anormais semelhantes a drusas e cavidades cistoides transitórias na camada de células ganglionares em crianças sob terapia RLRL exige cautela. Embora as cavidades cistoides tenham se resolvido após a descontinuação do tratamento, as alterações na densidade dos cones e os sinais semelhantes a drusas são achados que merecem investigação rigorosa.

A comunidade científica deve priorizar estudos futuros para avaliar a segurança a longo prazo da RLRL, especialmente considerando os riscos potenciais de danos oculares quando os limites de exposição são excedidos. A inclusão de avaliações de AOSLO em pesquisas de segurança e eficácia é crucial para monitorar alterações no nível celular. A análise do equilíbrio risco-benefício da RLRL em pacientes pediátricos com miopia é essencial para guiar as decisões clínicas e políticas futuras de intervenção precoce.

Referência Bibliográfica:

Zheng Z, Chen Y, Li P, et al. Efficacy comparison of atropine, orthokeratology and repeated low‑level red‑light therapy for myopia control in children: a systematic review and network meta‑analysis. Br J Ophthalmol. 2025. Epub ahead of print. doi:10.1136/bjo‑2025‑327366

Liao X, Yu J, Fan Y, Zhang Y, Li Y, Li X, Song H, Wang K. Cone Density Changes After Repeated Low‑Level Red Light Treatment in Children With Myopia. JAMA Ophthalmol. 2025 Jun;143(6):480‑488. doi: 10.1001/jamaophthalmol.2025.0835.

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